Amazônia em transição: mudança no uso do solo pode ter consequencias globais
O alerta vem sendo dado aos poucos. Pesquisas preveem secas cada vez mais frequentes e intensas, incêndios proliferam, em algumas áreas o desmatamento ficou descontrolado. O resultado é o processo de savanização das porções sul e leste da Amazônia. De forma acelerada, a maior floresta tropical do mundo ganha contorno de cerrado, perdendo parte da sua capacidade de armazenar carbono, um importante processo para contenção do aquecimento global.
Um artigo (The Amazon basin in transition) publicado na edição de 19 de janeiro da revista “Nature”, com ampla participação de pesquisadores e instituições brasileiras, reúne as mais recentes descobertas sobre o fenômeno, que se tornou preocupante, de acordo com os especialistas.
A bacia Amazônica está passando por uma transição e pode, em breve, deixar de ser um absorvedor de carbono e se tornar uma fonte. Foi identificado que a expansão agrícola e as mudanças climáticas estão provocando problemas na região. Pesquisadores afirmam que desmatamento, fogo e secas estão potencializando as perdas de estoque de carbono, além de alterar os padrões de chuva na região. O processo de transição já começou no sul, sudoeste e sudeste da Amazônia, sendo que a parte oeste da região permanece parcialmente preservada. Em partes da floresta, principalmente no Mato Grosso e no sul do Pará, os estragos causados pelo homem já seriam irreversíveis, a despeito do mecanismo de autodefesa desenvolvido pelo bioma.
A questão já foi observada e vinha sendo debatida há alguns anos, mas esta é a primeira vez que um grupo de pesquisadores do Brasil, Europa e Estados Unidos faz uma revisão sobre o assunto e publica artigo em um periódico científico. Os pesquisadores revisaram os dados do Programa Brasileiro de Pesquisas sobre as Interações Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA). Iniciado há 20 anos com o objetivo de compreender os processos biogeoquímicos da floresta e aumentar o conhecimento sobre as relações entre o uso da terra e o clima amazônico, o LBA já gerou mais de 2 mil publicações e cerca de 300 teses, de acordo com Paulo Artaxo, do Departamento de Física Aplicada do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) – um dos coordenadores do experimento e coautor do artigo.
O documento também afirma que estão ocorrendo alterações no fluxo de água e na sedimentação dos rios, além do prolongamento da estação de seca no sul e leste da Bacia Amazônica.
Trata-se de um processo complexo de transição de um ecossistema que tem como principal causa a mudança no manejo do solo provocada pelo crescimento da agricultura, pecuária, atividade madeireira e crescimento populacional na região. Para se ter uma ideia, em 1960, a população na Amazônia brasileira era de 6 milhões, em 2010 este número já era de 25 milhões. A cobertura de floresta diminuiu para 80% do que era.
Esta transição de absorvedor de carbono para fonte de carbono está ligada ao desmatamento. O fato é que florestas em crescimento tendem a absorver o carbono da atmosfera por causa do processo da fotossíntese. Porém, com o corte de árvores ocorre a liberação do carbono que estava armazenado - além da perda de uma árvore para fazer a fotossíntese e absorver carbono.
Nas estiages de 2005 e 2010, a floresta perdeu para a atmosfera cerca de uma tonelada de carbono por hectare. Nos anos sem seca, a Amazônia absorve 0,5 tonelada do gás por hectare — uma quantidade menor do que se pensava. Ainda assim, restringe o aumento da temperatura do planeta.
Atualmente, os rios amazônicos são responsáveis por 20% da água doce do mundo e a floresta armazena 100 bilhões de toneladas de carbono, o que equivale ao valor de 10 anos de emissões de combustíveis fósseis.
“O LBA mostrou que em um período de forte estresse climático, como as estiagens de 2005 e 2010, a floresta se torna uma pequena fonte de carbono”, diz Artaxo. Uma das conclusões que o LBA permitiu tirar é que, apesar de a Amazônia ser robusta o suficiente para suportar fatores individuais de estresse – secas, desmatamento e queimadas, entre outros–, a floresta pode não suportar todos ao mesmo tempo. “Há sinais de uma transição para um regime dominado por perturbações”, dizem Artaxo, Davidson e outros autores do trabalho.
Segundo o pesquisador brasileiro, um dos problemas em responder a questões complexas sobre o comportamento da floresta diante da mudança climática é que, apesar de ser o maior projeto de pesquisa na região, o LBA não é grande o suficiente.
“Temos 13 torres de fluxo (instrumentos para estudos atmosféricos) hoje em 5,5 milhões de km2. Seria um engano achar que 13 pontos de medida seriam capazes de representar uma área continental do tamanho da Amazônia”, diz Artaxo.“O país precisa ampliar esse sistema para monitorar não só a Amazônia, mas também outros biomas, como o cerrado e o Pantanal.”
A floresta não é afetada integralmente da mesma forma. Sua fração leste experimenta uma estação de seca todos os anos, reforçada em períodos de El Niño. As espécies de plantas lá encontradas adaptaram-se para aguentar uma estiagem moderada por um certo período. Os solos profundos em diversas regiões fornecem armazenamento de água suficiente para que as árvores extraiam água durante um ou dois anos sem precipitações.
No entanto, o levantamento avaliou que uma parte do bioma, isolada para um experimento, não aguentou três anos com baixa quantidade de chuvas. Em outras palavras, a vegetação dificilmente resistiria a uma mudança climática mais severa.
O processo desordenado de ocupação da floresta começou no fim dos anos 1970, e seus efeitos têm sido muito extensos. Mas ainda não é possível concluir se o bioma passará por um processo de desertificação. Isso depende de inúmeros fatores, como a circulação atmosférica global e a mudança no fluxo d'água do Atlântico tropical para a selva. Por outro lado, é ainda difícil dizer quanto a floresta Amazônica afetaria as mudança climática no planeta, pois é difícil prever o quanto ela será desmatada”, disse Artaxo.
Embora o governo brasileiro precise estruturar políticas para incentivar a preservação da floresta em pé, uma reportagem publicada na edição do dia 24 de janeiro pelo jornal americano New York Times afirma que o Brasil teve “grandes avanços” nos últimos anos no combate ao desmatamento da Amazônia, mas que recentemente há sinais de uma “mudança de atitude” do governo. “Desde que a presidente Dilma Rousseff foi eleita presidente, no final de 2010, há sinais de uma mudança na atitude do governo em relação à Amazônia”, diz a reportagem assinada pelo jornalista Alexei Barrionuevo. O texto do New York Times – intitulado “No Brasil, temores de uma recaída na proteção da Amazônia” – cita como exemplo a medida provisória 558/12, que altera os limites de alguns parques nacionais na Amazônia.
“O governo está dando mais flexibilidade para grandes projetos de infraestrutura durante o processo de licenciamento ambiental. E uma proposta de emenda constitucional daria ao Congresso do Brasil o poder de veto sobre o reconhecimento de territórios indígenas”, escreve o jornalista. A reportagem afirma que o debate sobre novo Código Florestal, que substitui o antigo, elaborado há 47 anos, está se tornando “o teste mais sério da posição de Rousseff sobre o meio ambiente”. “O debate sobre a lei revelou uma forte diferença entre uma população que está cada vez mais a favor de preservar a Amazônia e um Congresso no qual interesses agrícolas no Norte e Nordeste do país ainda têm influência”, escreve o repórter do New York Times.A reportagem diz que Dilma tem, até o momento, se mostrado “pró-desenvolvimento”, o que segundo ambientalistas “alterou o equilíbrio em relação à administração do presidente anterior, Luiz Inácio Lula da Silva”. O jornal reconhece que, apesar das preocupações dos ambientalistas, “não há como negar que o desmatamento no Brasil, provocado em grande escala pela pecuária, está com tendência de queda”.
fonte: http://novo.maternatura.org.br/news.php?news=636
O alerta vem sendo dado aos poucos. Pesquisas preveem secas cada vez mais frequentes e intensas, incêndios proliferam, em algumas áreas o desmatamento ficou descontrolado. O resultado é o processo de savanização das porções sul e leste da Amazônia. De forma acelerada, a maior floresta tropical do mundo ganha contorno de cerrado, perdendo parte da sua capacidade de armazenar carbono, um importante processo para contenção do aquecimento global.
Um artigo (The Amazon basin in transition) publicado na edição de 19 de janeiro da revista “Nature”, com ampla participação de pesquisadores e instituições brasileiras, reúne as mais recentes descobertas sobre o fenômeno, que se tornou preocupante, de acordo com os especialistas.
A bacia Amazônica está passando por uma transição e pode, em breve, deixar de ser um absorvedor de carbono e se tornar uma fonte. Foi identificado que a expansão agrícola e as mudanças climáticas estão provocando problemas na região. Pesquisadores afirmam que desmatamento, fogo e secas estão potencializando as perdas de estoque de carbono, além de alterar os padrões de chuva na região. O processo de transição já começou no sul, sudoeste e sudeste da Amazônia, sendo que a parte oeste da região permanece parcialmente preservada. Em partes da floresta, principalmente no Mato Grosso e no sul do Pará, os estragos causados pelo homem já seriam irreversíveis, a despeito do mecanismo de autodefesa desenvolvido pelo bioma.
A questão já foi observada e vinha sendo debatida há alguns anos, mas esta é a primeira vez que um grupo de pesquisadores do Brasil, Europa e Estados Unidos faz uma revisão sobre o assunto e publica artigo em um periódico científico. Os pesquisadores revisaram os dados do Programa Brasileiro de Pesquisas sobre as Interações Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA). Iniciado há 20 anos com o objetivo de compreender os processos biogeoquímicos da floresta e aumentar o conhecimento sobre as relações entre o uso da terra e o clima amazônico, o LBA já gerou mais de 2 mil publicações e cerca de 300 teses, de acordo com Paulo Artaxo, do Departamento de Física Aplicada do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) – um dos coordenadores do experimento e coautor do artigo.
O documento também afirma que estão ocorrendo alterações no fluxo de água e na sedimentação dos rios, além do prolongamento da estação de seca no sul e leste da Bacia Amazônica.
Trata-se de um processo complexo de transição de um ecossistema que tem como principal causa a mudança no manejo do solo provocada pelo crescimento da agricultura, pecuária, atividade madeireira e crescimento populacional na região. Para se ter uma ideia, em 1960, a população na Amazônia brasileira era de 6 milhões, em 2010 este número já era de 25 milhões. A cobertura de floresta diminuiu para 80% do que era.
Esta transição de absorvedor de carbono para fonte de carbono está ligada ao desmatamento. O fato é que florestas em crescimento tendem a absorver o carbono da atmosfera por causa do processo da fotossíntese. Porém, com o corte de árvores ocorre a liberação do carbono que estava armazenado - além da perda de uma árvore para fazer a fotossíntese e absorver carbono.
Nas estiages de 2005 e 2010, a floresta perdeu para a atmosfera cerca de uma tonelada de carbono por hectare. Nos anos sem seca, a Amazônia absorve 0,5 tonelada do gás por hectare — uma quantidade menor do que se pensava. Ainda assim, restringe o aumento da temperatura do planeta.
Atualmente, os rios amazônicos são responsáveis por 20% da água doce do mundo e a floresta armazena 100 bilhões de toneladas de carbono, o que equivale ao valor de 10 anos de emissões de combustíveis fósseis.
“O LBA mostrou que em um período de forte estresse climático, como as estiagens de 2005 e 2010, a floresta se torna uma pequena fonte de carbono”, diz Artaxo. Uma das conclusões que o LBA permitiu tirar é que, apesar de a Amazônia ser robusta o suficiente para suportar fatores individuais de estresse – secas, desmatamento e queimadas, entre outros–, a floresta pode não suportar todos ao mesmo tempo. “Há sinais de uma transição para um regime dominado por perturbações”, dizem Artaxo, Davidson e outros autores do trabalho.
Segundo o pesquisador brasileiro, um dos problemas em responder a questões complexas sobre o comportamento da floresta diante da mudança climática é que, apesar de ser o maior projeto de pesquisa na região, o LBA não é grande o suficiente.
“Temos 13 torres de fluxo (instrumentos para estudos atmosféricos) hoje em 5,5 milhões de km2. Seria um engano achar que 13 pontos de medida seriam capazes de representar uma área continental do tamanho da Amazônia”, diz Artaxo.“O país precisa ampliar esse sistema para monitorar não só a Amazônia, mas também outros biomas, como o cerrado e o Pantanal.”
A floresta não é afetada integralmente da mesma forma. Sua fração leste experimenta uma estação de seca todos os anos, reforçada em períodos de El Niño. As espécies de plantas lá encontradas adaptaram-se para aguentar uma estiagem moderada por um certo período. Os solos profundos em diversas regiões fornecem armazenamento de água suficiente para que as árvores extraiam água durante um ou dois anos sem precipitações.
No entanto, o levantamento avaliou que uma parte do bioma, isolada para um experimento, não aguentou três anos com baixa quantidade de chuvas. Em outras palavras, a vegetação dificilmente resistiria a uma mudança climática mais severa.
O processo desordenado de ocupação da floresta começou no fim dos anos 1970, e seus efeitos têm sido muito extensos. Mas ainda não é possível concluir se o bioma passará por um processo de desertificação. Isso depende de inúmeros fatores, como a circulação atmosférica global e a mudança no fluxo d'água do Atlântico tropical para a selva. Por outro lado, é ainda difícil dizer quanto a floresta Amazônica afetaria as mudança climática no planeta, pois é difícil prever o quanto ela será desmatada”, disse Artaxo.
Embora o governo brasileiro precise estruturar políticas para incentivar a preservação da floresta em pé, uma reportagem publicada na edição do dia 24 de janeiro pelo jornal americano New York Times afirma que o Brasil teve “grandes avanços” nos últimos anos no combate ao desmatamento da Amazônia, mas que recentemente há sinais de uma “mudança de atitude” do governo. “Desde que a presidente Dilma Rousseff foi eleita presidente, no final de 2010, há sinais de uma mudança na atitude do governo em relação à Amazônia”, diz a reportagem assinada pelo jornalista Alexei Barrionuevo. O texto do New York Times – intitulado “No Brasil, temores de uma recaída na proteção da Amazônia” – cita como exemplo a medida provisória 558/12, que altera os limites de alguns parques nacionais na Amazônia.
“O governo está dando mais flexibilidade para grandes projetos de infraestrutura durante o processo de licenciamento ambiental. E uma proposta de emenda constitucional daria ao Congresso do Brasil o poder de veto sobre o reconhecimento de territórios indígenas”, escreve o jornalista. A reportagem afirma que o debate sobre novo Código Florestal, que substitui o antigo, elaborado há 47 anos, está se tornando “o teste mais sério da posição de Rousseff sobre o meio ambiente”. “O debate sobre a lei revelou uma forte diferença entre uma população que está cada vez mais a favor de preservar a Amazônia e um Congresso no qual interesses agrícolas no Norte e Nordeste do país ainda têm influência”, escreve o repórter do New York Times.A reportagem diz que Dilma tem, até o momento, se mostrado “pró-desenvolvimento”, o que segundo ambientalistas “alterou o equilíbrio em relação à administração do presidente anterior, Luiz Inácio Lula da Silva”. O jornal reconhece que, apesar das preocupações dos ambientalistas, “não há como negar que o desmatamento no Brasil, provocado em grande escala pela pecuária, está com tendência de queda”.
fonte: http://novo.maternatura.org.br/news.php?news=636
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