Estudos demonstram como as mudanças climáticas afetam a flora e a fauna
Três estudos publicados em janeiro demonstram os danos irreversíveis que as mudanças climáticas estão causando na flora e na fauna. O primeiro estudo (Continent-wide response of mountain vegetation to climate change) foi elaborado por um grupo de pesquisadores de 13 países e afirma que as mudanças climáticas estão afetando a vegetação nativa em montanhas no mundo. O estudo foi feito em formações rochosas na Europa e publicado na revista científica “Nature Climate Change” no dia 10 de janeiro.
Coordenado por cientistas da Universidade de Viena e da Academia de Ciências austríaca, o trabalho contou com a análise de 867 espécies vegetais típicas de montanhas localizadas em 60 picos diferentes no continente europeu. A pesquisa foi feita em dois momentos: primeiro em 2001 e depois em 2008, por um total de 32 profissionais.
A alteração ocorreu principalmente entre as plantas achadas em regiões alpinas — mais adaptadas ao frio — que estão perdendo espaço para as espécies que crescem preferencialmente em ambientes quentes. Segundo Michael Gottfried, coordenador da equipe, o grupo esperava encontrar mais espécies típicas de climas mais quentes em altitudes mais elevadas, mas não podiam prever que este fenômeno estivesse tão avançado. Eles alertam que espécies antes comuns nas montanhas europeias como a Nevadensia purpurea podem até mesmo desaparecer nas próximas décadas.
O estudo mostra a relação entre o aumento de temperatura e a mudança no tipo de vegetação presente nas montanhas. Os autores afirmam que embora este fenômeno já tivesse sido apontado em escala regional, este é o primeiro estudo a identificar o problema em um continente inteiro. A pesquisa também mostra que o efeito nas plantas típicas de montanha acontece a diferentes altitudes e em formações rochosas em diferentes latitudes – efeitos parecidos foram observados tanto na Escócia como na ilha grega de Creta, no sul do continente.
As mudanças climáticas também são responsáveis pela alteração do hábitat de diversos animais, levando-os a migrarem para locais onde possam encontrar condições de vida mais favoráveis à sua espécie. A segunda pesquisa demonstra que alguns animais não estão conseguindo acompanhar a velocidade do aquecimento global, o que pode levar à redução do número e até à extinção de muitos representantes da fauna.
A análise (Differences in the climatic debts of birds and butterflies at a continental scale), publicada na revista “Nature” e realizada por cientistas da Espanha, França, Países Baixos, Reino Unido, República Tcheca e Suécia, foi desenvolvida a partir do estudo do comportamento de 2.130 comunidades de borboletas e 9.490 de aves na Europa durante as últimas duas décadas (de 1990 a 2008).
Segundo a pesquisa, enquanto a elevação das temperaturas avançou 250 quilômetros para o norte do continente, o deslocamento das borboletas foi de 114 quilômetros, e a movimentação das aves foi de apenas 37 quilômetros, também para essa mesma direção.
“Tanto as borboletas quanto as aves respondem às mudanças climáticas, mas não rapidamente o suficiente para acompanhar um clima cada vez mais quente. Não sabemos quais efeitos ecológicos a longo prazo isso terá”, comentou Åke Lindström, professor da Universidade de Lund, na Suécia.
“Nossos resultados não indicam apenas que as aves e as borboletas são incapazes de seguir as mudanças climáticas rapidamente o suficiente. Eles também mostram que o hiato entre os dois grupos está aumentando”, complementou Chris van Swaay, do Dutch Butter fly Conservation.
Para os cientistas, há uma explicação para o avanço mais acelerado das borboletas em relação ao das aves. “O fato de que as borboletas estão reagindo em média mais rapidamente às mudanças climáticas em nível europeu do que as aves pode ser porque as borboletas têm ciclos de vida relativamente curtos e são muito sensíveis à temperatura ambiente, o que as permite seguir as mudanças de temperatura mais rapidamente do que as aves”, observou Oliver Schweiger, do Centro Helmholtz para Pesquisa Ambiental (UFZ).
No entanto, de acordo com os pesquisadores, esse distanciamento entre o habitat das borboletas e o das aves poderá ter consequências severas para as espécies, já que muitas vezes elas dependem umas das outras para se alimentarem e sobreviverem.
“Um aspecto preocupante disso é se as aves saírem da sintonia com as borboletas, porque lagartas e insetos em geral representam uma fonte importante de alimento para muitas aves”, explicou Åke Lindström, professor da Universidade de Lund, na Suécia. E mesmo para as borboletas, que conseguem acompanhar melhor as mudanças climáticas, o aquecimento global será perigoso, pois também poderá reduzir e alterar sua oferta de alimento.
“Quanto mais especializada a espécie é, mais ameaçada ela será por tais mudanças. As lagartas da Boloria titania(foto) dependem da planta Polygonum bisorta como alimento. Mesmo se essa espécie de borboleta conseguir acompanhar as temperaturas, a planta da qual ela depende não tem nem de longe tanta mobilidade”, esclareceu Josef Settele, do UFZ.
Além de observar a migração dos animais, o estudo também possibilitou que os pesquisadores especificassem em quais regiões o problema se deu com maior intensidade, e como as espécies se movimentaram e se assentaram. Os resultados variaram entre os países analisados. Na República Tcheca, por exemplo, quase não houve mudança na temperatura média para o habitat das aves, mas na Suécia, ocorreu um grande aumento na temperatura. Já para as borboletas, houve pouca alteração no Reino Unido, mas grandes variações nos Países Baixos.
Os estudiosos consideram os resultados alarmantes, pois aves e borboletas estão entre os animais que têm mais facilidade para se deslocarem e se adaptarem, e isso pode significar que outras espécies sofrerão ainda mais com o aquecimento global. Além disso, os pesquisadores acreditam que a análise revela a importância das previsões do impacto das mudanças climáticas sobre os ecossistemas.
“Nos últimos 50 anos, os principais fatores que afetam os números e a distribuição de aves e de borboletas têm sido a agricultura, a silvicultura e a urbanização. As mudanças climáticas estão agora surgindo como um fator cada vez mais importante no desenvolvimento da biodiversidade”, concluiu Lindström.
Por sua vez, o estudo “Near-future carbon dioxide levels alter fish behaviour by interfering with neurotransmitter function”, publicado dia 15 de janeiro na edição online da Nature Climate Change, revelou que as crescentes emissões de dióxido de carbono podem afetar o cérebro e o sistema nervoso central dos peixes marinhos, com sérias consequências para a sua sobrevivência.
Segundo a pesquisa, as concentrações de dióxido de carbono estimadas para o fim deste século interferirão na habilidade dos peixes de ouvir, cheirar, se virar e escapar de predadores. O ARC, Centro de Excelência para Estudos de Recifes de Coral, informou que está testando o desempenho de filhotes de peixes coralinos na água do mar com altos níveis de dióxido de carbono dissolvido por vários anos.
“E agora está bem claro que eles sofrem uma alteração significativa em seu sistema nervoso central, podendo prejudicar suas chances de sobrevivência”, disse Phillip Munday, professor que divulgou as descobertas.
Munday e seus colegas também detalharam o que afirmam ser a primeira evidência no mundo de que os níveis de CO2 na água do mar afetam um receptor cerebral chave nos peixes, provocando mudanças marcantes em seu comportamento e habilidades sensoriais. “Nós descobrimos que altas concentrações de CO2 nos oceanos podem interferir diretamente nas funções dos neurotransmissores dos peixes, o que representa uma ameaça direta e antes desconhecida à vida marinha”, afirmou Munday.
A equipe de cientistas começou a estudar o comportamento de filhotes de peixe-palhaço e peixes-donzela ao lado de seus predadores em um ambiente de água enriquecida com CO2. Eles descobriram que enquanto os predadores eram pouco afetados, os filhotes demonstraram um desgaste muito maior.
“Nosso trabalho inicial demonstrou que o sentido do olfato em filhotes de peixes foi afetado pela presença de mais CO2 na água, o que significa que eles tiveram mais dificuldade de localizar um coral para se abrigar ou detectar o odor de alerta de um peixe predador”, disse Munday. A equipe, então, examinou se a audição dos peixes – usada para localizar e ocupar recifes à noite e evitá-los durante o dia – tinha sido afetada. “A resposta foi positiva. Eles ficaram confusos e deixaram de evitar sons coralinos durante o dia. Ser atraído pelos corais à luz do dia os tornaria presas fáceis para os predadores”, acrescentaram os estudiosos.
O estudo mostrou, ainda, que os peixes também tendem a perder o instinto natural de virar para a direita ou a esquerda, um importante fator de comportamento adquirido. “Tudo isto nos levou a suspeitar que o que estava acontecendo não era simplesmente um dano ao seus sentidos individuais, mas ao contrário, que níveis mais altos de dióxido de carbono estavam afetando o sistema nervoso central como um todo”, acrescentou.
Munday afirmou que 2,3 bilhões de toneladas de emissões de CO2 se dissolvem nos oceanos do mundo todo ano, provocando mudanças na química da água na qual vivem os peixes e outras espécies.
fonte: http://novo.maternatura.org.br/news.php?news=636
Três estudos publicados em janeiro demonstram os danos irreversíveis que as mudanças climáticas estão causando na flora e na fauna. O primeiro estudo (Continent-wide response of mountain vegetation to climate change) foi elaborado por um grupo de pesquisadores de 13 países e afirma que as mudanças climáticas estão afetando a vegetação nativa em montanhas no mundo. O estudo foi feito em formações rochosas na Europa e publicado na revista científica “Nature Climate Change” no dia 10 de janeiro.
Coordenado por cientistas da Universidade de Viena e da Academia de Ciências austríaca, o trabalho contou com a análise de 867 espécies vegetais típicas de montanhas localizadas em 60 picos diferentes no continente europeu. A pesquisa foi feita em dois momentos: primeiro em 2001 e depois em 2008, por um total de 32 profissionais.
A alteração ocorreu principalmente entre as plantas achadas em regiões alpinas — mais adaptadas ao frio — que estão perdendo espaço para as espécies que crescem preferencialmente em ambientes quentes. Segundo Michael Gottfried, coordenador da equipe, o grupo esperava encontrar mais espécies típicas de climas mais quentes em altitudes mais elevadas, mas não podiam prever que este fenômeno estivesse tão avançado. Eles alertam que espécies antes comuns nas montanhas europeias como a Nevadensia purpurea podem até mesmo desaparecer nas próximas décadas.
O estudo mostra a relação entre o aumento de temperatura e a mudança no tipo de vegetação presente nas montanhas. Os autores afirmam que embora este fenômeno já tivesse sido apontado em escala regional, este é o primeiro estudo a identificar o problema em um continente inteiro. A pesquisa também mostra que o efeito nas plantas típicas de montanha acontece a diferentes altitudes e em formações rochosas em diferentes latitudes – efeitos parecidos foram observados tanto na Escócia como na ilha grega de Creta, no sul do continente.
As mudanças climáticas também são responsáveis pela alteração do hábitat de diversos animais, levando-os a migrarem para locais onde possam encontrar condições de vida mais favoráveis à sua espécie. A segunda pesquisa demonstra que alguns animais não estão conseguindo acompanhar a velocidade do aquecimento global, o que pode levar à redução do número e até à extinção de muitos representantes da fauna.
A análise (Differences in the climatic debts of birds and butterflies at a continental scale), publicada na revista “Nature” e realizada por cientistas da Espanha, França, Países Baixos, Reino Unido, República Tcheca e Suécia, foi desenvolvida a partir do estudo do comportamento de 2.130 comunidades de borboletas e 9.490 de aves na Europa durante as últimas duas décadas (de 1990 a 2008).
Segundo a pesquisa, enquanto a elevação das temperaturas avançou 250 quilômetros para o norte do continente, o deslocamento das borboletas foi de 114 quilômetros, e a movimentação das aves foi de apenas 37 quilômetros, também para essa mesma direção.
“Tanto as borboletas quanto as aves respondem às mudanças climáticas, mas não rapidamente o suficiente para acompanhar um clima cada vez mais quente. Não sabemos quais efeitos ecológicos a longo prazo isso terá”, comentou Åke Lindström, professor da Universidade de Lund, na Suécia.
“Nossos resultados não indicam apenas que as aves e as borboletas são incapazes de seguir as mudanças climáticas rapidamente o suficiente. Eles também mostram que o hiato entre os dois grupos está aumentando”, complementou Chris van Swaay, do Dutch Butter fly Conservation.
Para os cientistas, há uma explicação para o avanço mais acelerado das borboletas em relação ao das aves. “O fato de que as borboletas estão reagindo em média mais rapidamente às mudanças climáticas em nível europeu do que as aves pode ser porque as borboletas têm ciclos de vida relativamente curtos e são muito sensíveis à temperatura ambiente, o que as permite seguir as mudanças de temperatura mais rapidamente do que as aves”, observou Oliver Schweiger, do Centro Helmholtz para Pesquisa Ambiental (UFZ).
No entanto, de acordo com os pesquisadores, esse distanciamento entre o habitat das borboletas e o das aves poderá ter consequências severas para as espécies, já que muitas vezes elas dependem umas das outras para se alimentarem e sobreviverem.
“Um aspecto preocupante disso é se as aves saírem da sintonia com as borboletas, porque lagartas e insetos em geral representam uma fonte importante de alimento para muitas aves”, explicou Åke Lindström, professor da Universidade de Lund, na Suécia. E mesmo para as borboletas, que conseguem acompanhar melhor as mudanças climáticas, o aquecimento global será perigoso, pois também poderá reduzir e alterar sua oferta de alimento.
“Quanto mais especializada a espécie é, mais ameaçada ela será por tais mudanças. As lagartas da Boloria titania(foto) dependem da planta Polygonum bisorta como alimento. Mesmo se essa espécie de borboleta conseguir acompanhar as temperaturas, a planta da qual ela depende não tem nem de longe tanta mobilidade”, esclareceu Josef Settele, do UFZ.
Além de observar a migração dos animais, o estudo também possibilitou que os pesquisadores especificassem em quais regiões o problema se deu com maior intensidade, e como as espécies se movimentaram e se assentaram. Os resultados variaram entre os países analisados. Na República Tcheca, por exemplo, quase não houve mudança na temperatura média para o habitat das aves, mas na Suécia, ocorreu um grande aumento na temperatura. Já para as borboletas, houve pouca alteração no Reino Unido, mas grandes variações nos Países Baixos.
Os estudiosos consideram os resultados alarmantes, pois aves e borboletas estão entre os animais que têm mais facilidade para se deslocarem e se adaptarem, e isso pode significar que outras espécies sofrerão ainda mais com o aquecimento global. Além disso, os pesquisadores acreditam que a análise revela a importância das previsões do impacto das mudanças climáticas sobre os ecossistemas.
“Nos últimos 50 anos, os principais fatores que afetam os números e a distribuição de aves e de borboletas têm sido a agricultura, a silvicultura e a urbanização. As mudanças climáticas estão agora surgindo como um fator cada vez mais importante no desenvolvimento da biodiversidade”, concluiu Lindström.
Por sua vez, o estudo “Near-future carbon dioxide levels alter fish behaviour by interfering with neurotransmitter function”, publicado dia 15 de janeiro na edição online da Nature Climate Change, revelou que as crescentes emissões de dióxido de carbono podem afetar o cérebro e o sistema nervoso central dos peixes marinhos, com sérias consequências para a sua sobrevivência.
Segundo a pesquisa, as concentrações de dióxido de carbono estimadas para o fim deste século interferirão na habilidade dos peixes de ouvir, cheirar, se virar e escapar de predadores. O ARC, Centro de Excelência para Estudos de Recifes de Coral, informou que está testando o desempenho de filhotes de peixes coralinos na água do mar com altos níveis de dióxido de carbono dissolvido por vários anos.
“E agora está bem claro que eles sofrem uma alteração significativa em seu sistema nervoso central, podendo prejudicar suas chances de sobrevivência”, disse Phillip Munday, professor que divulgou as descobertas.
Munday e seus colegas também detalharam o que afirmam ser a primeira evidência no mundo de que os níveis de CO2 na água do mar afetam um receptor cerebral chave nos peixes, provocando mudanças marcantes em seu comportamento e habilidades sensoriais. “Nós descobrimos que altas concentrações de CO2 nos oceanos podem interferir diretamente nas funções dos neurotransmissores dos peixes, o que representa uma ameaça direta e antes desconhecida à vida marinha”, afirmou Munday.
A equipe de cientistas começou a estudar o comportamento de filhotes de peixe-palhaço e peixes-donzela ao lado de seus predadores em um ambiente de água enriquecida com CO2. Eles descobriram que enquanto os predadores eram pouco afetados, os filhotes demonstraram um desgaste muito maior.
“Nosso trabalho inicial demonstrou que o sentido do olfato em filhotes de peixes foi afetado pela presença de mais CO2 na água, o que significa que eles tiveram mais dificuldade de localizar um coral para se abrigar ou detectar o odor de alerta de um peixe predador”, disse Munday. A equipe, então, examinou se a audição dos peixes – usada para localizar e ocupar recifes à noite e evitá-los durante o dia – tinha sido afetada. “A resposta foi positiva. Eles ficaram confusos e deixaram de evitar sons coralinos durante o dia. Ser atraído pelos corais à luz do dia os tornaria presas fáceis para os predadores”, acrescentaram os estudiosos.
O estudo mostrou, ainda, que os peixes também tendem a perder o instinto natural de virar para a direita ou a esquerda, um importante fator de comportamento adquirido. “Tudo isto nos levou a suspeitar que o que estava acontecendo não era simplesmente um dano ao seus sentidos individuais, mas ao contrário, que níveis mais altos de dióxido de carbono estavam afetando o sistema nervoso central como um todo”, acrescentou.
Munday afirmou que 2,3 bilhões de toneladas de emissões de CO2 se dissolvem nos oceanos do mundo todo ano, provocando mudanças na química da água na qual vivem os peixes e outras espécies.
fonte: http://novo.maternatura.org.br/news.php?news=636
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