terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Diversidade de plantas no semi-árido atenua o aquecimento e a desertificação



Estudo que envolveu 50 pesquisadores, inclusive dois brasileiros, concluiu que quanto mais espécies de plantas em zonas de clima árido e semi-árido, mais fácil de preservar o ecossistema, pois aumenta a capacidade delas executarem diferentes funções como manter a fertilidade do solo, controlar a erosão, regular o clima e fornecer água e alimentos. De acordo com o estudo, a preservação da diversidade de plantas nestes pontos do planeta pode atenuar as mudanças climáticas e o processo de desertificação.


“Embora já houvesse evidências de que a biodiversidade é importante para o bom funcionamento dos ecossistemas, este é o primeiro trabalho a avaliar explicitamente relações entre a função do ecossistema e da biodiversidade em condições naturais, em uma escala global em zonas secas”, afirmou Roberto Romão, professor titular da Universidade Estadual de Feira de Santana (Bahia), que participou do estudo (Plant Species Richness and Ecosystem Multifunctionality in Global Drylands) publicado no dia 13 de janeiro pelo periódico científico Science.

Os pesquisadores tiveram como base mais de 2.600 de amostras de solo e 224 observações diretas em ecossistemas naturais espalhados em 16 países de cinco continentes (menos a Antártida). “Neste estudo, analisou-se 14 variáveis relacionadas com o ciclo de elementos, tais como carbono, nitrogênio e fósforo, que por sua vez, são bons indicadores do funcionamento dos ecossistemas, como manutenção de fertilidade do solo, controle de erosão, regulação do clima através do fixação do CO2 atmosférico”, explicou Romão.

As zonas áridas — que incluem alguns tipos de savanas, estepes e semiáridos — são de grande importância mundial pois cobrem 41% da superfície terrestre, abrigam 38% da população humana, e tem uma grande importância para a manutenção da biodiversidade global, uma vez que nelas estão 20% dos principais centros de diversidade de plantas e 30% das principais áreas de aves endêmicas do mundo.

“Estes ecossistemas são também muito vulneráveis às alterações climáticas e à desertificação, dois dos principais problemas ambientais enfrentados pela humanidade”, pontuou Romão. E completou: “Nesse sentido, os resultados indicam que o aquecimento global que sofre o planeta diminuirá a funcionalidade das zonas áridas, com um impacto negativo na sua capacidade de produzir serviços essenciais para a manutenção da vida no planeta”. 

“Existem numerosos estudos sobre diversos aspectos das terras áridas. Contudo, sabemos muito menos sobre o tema do que sobre zonas tropicais e temperadas e zonas aquáticas”, afirmou o líder do estudo, Fernando Maestre, pesquisador da Universidade Rei Juan Carlos, na Espanha.

De acordo com ele, apenas 3% dos estudos sobre relações ecológicas foram feitos em zonas áridas. “Poucos pesquisadores têm se interessado em explorar essas questões em zonas áridas, talvez porque sempre pensem que nesses ambientes o funcionamento do ecossistema é governado principalmente por fatores abióticos, como pluviosidade e temperatura”, completa o espanhol, segundo quem essa noção foi posta em xeque pelo novo levantamento. “Nosso estudo mostra que a biodiversidade é um determinante importante do funcionamento dos ecossistemas áridos, e pode ser ainda mais importante do que fatores como a precipitação média anual para explicar a variação em termos de funcionalidade em escala global”, aponta.

Depois de inúmeras pesquisas de campo e análises de laboratório, os pesquisadores perceberam que os sistemas secos têm uma dinâmica muito mais complexa do que se imaginava. Apesar de desempenharem um papel menos intenso na reciclagem do carbono, principal causador do efeito estufa, eles têm um papel ainda assim importante nesse e em outros processos, como a purificação da água e o controle do clima, os chamados serviços ecológicos. E mais: sua participação nesses serviços está diretamente ligada à biodiversidade. Quanto mais diversa uma área, mais importante para o controle global ela é.

Os resultados indicam, contudo, um problema. “O aquecimento global do planeta está diminuindo a funcionalidade do árido, com um impacto negativo na sua capacidade de produzir serviços essenciais para a manutenção da vida na Terra”, conta Maestre. Isso acontece porque o aumento na temperatura média das regiões secas inviabiliza a existência das espécies mais delicadas, diminuindo a biodiversidade, questão que se descobriu agora ser essencial para a participação efetiva das formações vegetais nos serviços ecológicos. “Hoje, podemos não chegar a um acordo sobre limitar as emissões de gases de efeito estufa, que provocam o aquecimento global, mas podemos ajudar a minimizar as consequências de sua emissão ao restaurar a biodiversidade vegetal”, completa.

Coautor do estudo, o pesquisador David Eldridge, da Universidade de New South Wales, na Austrália, explica que a descoberta valoriza ainda mais a importância da biodiversidade, anteriormente vista com atenção especial apenas em outros biomas. “Nossas descobertas sugerem que a riqueza de espécies de plantas pode ser particularmente importante para a manutenção de funções do ecossistema ligadas ao ciclo de carbono e nitrogênio, que sustenta o sequestro de carbono e a fertilidade do solo”, diz. “Como a degradação da terra é muitas vezes acompanhada pela perda de fertilidade do solo, a riqueza de espécies de plantas também pode promover a resistência de ecossistemas à desertificação”, completa.



fonte: http://novo.maternatura.org.br/news.php?news=636

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