terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Poluição difusa é ameaça silenciosa para meio ambiente e mananciais 

Assunto pouco discutido, a poluição difusa ainda é um tema quase ausente nos debates técnicos sobre preservação ambiental. Esse tipo de degradação é causada em boa parte pela urbanização, impermeabilização do solo, gases lançados por automóveis, despejo de produtos químicos em rios e atividades humanas relacionadas à subsistência e falta de educação em alguns setores da sociedade. Estudiosos apontam que a poluição difusa é uma das maiores ameaças aos reservatórios que fornecem água a milhões de pessoas.
O pesquisador e engenheiro da Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern), Marco Antônio Calazans Duarte, observa que este é um problema de forte vertente econômica porque muitas pessoas, residentes em áreas isoladas ou de baixa renda, precisam do meio ambiente e seus recursos hídricos para sobreviver. 

Doutor em Engenharia Hidráulica e Saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos (USP), Calazans cita alguns fatores que têm concorrido para que a poluição difusa seja uma realidade preocupante. Uso indiscriminado de agrotóxicos, desmatamento da vegetação ciliar, utilização exagerada e indevida de fertilizantes, lançamento de águas pluviais e de dejetos industriais em rios e açudes e infiltração de chorume (líquido derivado do lixo em decomposição e altamente tóxico) no subsolo de aterros e lixões estão entre as causas principais desse fenômeno. De acordo com dados publicados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em dezembro passado e referentes a 2010, a contaminação por agrotóxicos no país, ocorre em 28% dos alimentos consumidos pelos brasileiros, quase o dobro do índice de 15% registrado em 2008. 

Calazans lembra que algumas ações podem ser realizadas para diminuir a poluição difusa. A Caern realiza desde 2011 uma experiência de reuso de esgoto tratado para irrigar 15 hectares de capim em Pendências, a 203 quilômetros de Natal, que é uma amostra da tendência a se consolidar nos próximos anos no Rio Grande do Norte. O terreno fica próximo da Estação de Tratamento de Esgotos (ETA). Atualmente, todo o esgoto tratado daquela cidade é utilizado no projeto. O reuso evita que se utilize água dos mananciais para a agricultura. 

Hoje, 70% da água doce do mundo é usada para produzir alimentos quando uma quantidade expressiva desse montante poderia ser destinada ao consumo humano. Outro benefício da reutilização de efluentes tratados é a redução do emprego de fertilizantes industriais, já que o esgoto depois do tratamento continua rico em nutrientes como nitrogênio, potássio e fósforo. "O reuso na agricultura também evita a possibilidade de que o esgoto mesmo tratado possa ser lançado em rios", acrescenta o pesquisador. 

LIXO 

Tanto a vegetação como o resto de folhagem, existentes em paralelo aos rios, funcionam como amortecedores da água da chuva. Servem como filtros naturais da penetração da água da chuva no solo e contribuindo para a alimentação do lençol freático. Como é preciso se buscar cada vez mais longe a água doce para abastecer populações inteiras, em complexos e caros projetos de engenharia, vê-se que cada pingo d´água tem sua importância. "A água que chega ao solo sem essa proteção, deixa o solo mais duro, impermeável, prejudicando a capacidade natural deste em absorver o líquido", explica Calazans. 

Detectar as fontes poluidoras e todas as impurezas lançadas no meio ambiente não é tarefa das mais fáceis. Mas as pessoas podem contribuir para minorar o problema. Ainda hoje, há quem lave carros ou animais em beira de açudes. Além de evitar atitudes inconsequentes como essas é preciso não jogar lixo em rios. Materiais de todos os tipos lançados nos corpos hídricos se depositam no fundo dos estuários. Acomodado no leito, o lixo contribui para o assoreamento, a perda de área que o rio teria para escoar água de chuva no curso normal dele, e esse excedente hídrico termina ocupando.




fonte: http://www.revistadae.com.br/novosite/noticias_interna.php?id=6109

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