TERRAMÉRICA – Segurança alimentar em tempos de crise
por Alan Bojanic*
Foto: Fabricio Vanden Broeck.
As perspectivas das colheitas de cereais para 2012 pioraram no Brasil, México, Argentina e América Central, afirma neste artigo Alan Bojanic, representante interino da FAO para América Latina e Caribe.
Santiago, Chile, 20 de fevereiro de 2012 (Terramérica).- A incerteza diante do que virá em 2012 é um desafio para a capacidade dos governos de enfrentar de maneira equilibrada as ameaças que uma recessão representaria para a população de menor recurso.
A preocupação com a segurança alimentar deriva do fato de que menores taxas de crescimento no emprego e na renda repercutem nas capacidades de acesso dos mais pobres aos alimentos.Como diz o último Boletim Trimestral de Segurança Alimentar da FAO, o cenário internacional atual está marcado pela persistência da crise da dívida soberana em vários países da União Europeia. Se houver uma recessão na zona do euro, haverá consequências na demanda mundial, e este processo influiria nas taxas de crescimento dos países emergentes que até agora sustentam a dinâmica do crescimento econômico mundial.
Esta situação de incerteza afeta as previsões de crescimento da economia mundial, corrigido para baixo para 2012, de 6,2% para 5,4% para os países em desenvolvimento, e de 2,7% para 1,4% para os de alta renda (com queda de 0,3% para a zona do euro). Em escala mundial, o Banco Mundial espera que a economia cresça 2,5% este ano. Um crescimento mais lento implicará que o comércio internacional também diminua seu crescimento, e provavelmente esta situação incida nos preços dos produtos básicos.
O Banco Mundial calcula que as exportações mundiais de bens e serviços cresceram 6,6% em 2011 (metade de 2010, quando a expansão foi de 12,4%) e se prevê aumento de 4,7% para este ano. Os preços internacionais dos alimentos experimentaram queda de 10% entre junho e dezembro de 2011.
Entre dezembro de 2010 e dezembro de 2011, o preço do açúcar baixou 18%, os preços médios dos óleos caíram 14%, o índice de preços dos cereais (fundamentais na dieta humana) baixaram 8%, e os produtos lácteos 3%.
É presumível que esta tendência de baixa – que repercute nas expectativas dos agentes do mercado internacional – se some aos aumentos de disponibilidade de alimentos para gerar um ambiente menos tenso em 2012, quando haverá altas e baixas de preços, porém, menos acentuadas. Entretanto, as flutuações nos preços internacionais não são transmitidas diretamente aos países: na América Latina e no Caribe não ocorreu essa transmissão direta quando os preços dos alimentos subiram, e tampouco agora se espera que o façam no sentido contrário.
Isto não nega o impacto dos preços internacionais, e revela a importância das dinâmicas dos mercados nacionais e locais na formação de preços. A disponibilidade recorde de cereais em 2011 foi uma das principais razões da queda de preços nos últimos meses do ano passado. Os estoques mundiais de cereais em 2011 seriam dez milhões de toneladas maiores do que em 2010. A produção também aumentou e a estimativa mais recente da FAO para as colheitas de cereais em 2011-2012 indica o recorde de 2,323 bilhões de toneladas, 3,5% a mais do que na safra 2010-2011. A previsão é de que a colheita mundial de trigo aumente 6,5%, mas prognósticos para os cereais secundários e o arroz caíram levemente.
Os países da região mostram estabilidade com um nível relativamente baixo de inflação (7%), segundo o Informe de Preços da América Latina e do Caribe divulgado pela FAO em janeiro, e a inflação anual dos alimentos mostrou sinais animadores, ao fechar 2011 com 8,5%, menor do que os 9,6% de 2010. Diversos países da região experimentaram reduções importantes na inflação dos alimentos entre 2010 e 2011, alguns inclusive chegaram a taxas inferiores às registradas antes da carestia alimentar mundial de 2008.
Quanto à produção, as perspectivas pioraram na Argentina, onde, por causa da seca, se espera uma queda de aproximadamente 12% na colheita de cereais. No Brasil também se observa uma importante redução na colheita de trigo, com baixa de 16% entre 2011-2012 e 2010-2011, devido a geadas e reduções de áreas plantadas. Também se prevê contrações nas colheitas de milho do México e da América Central.
Durante 2011, os governos da América Latina e do Caribe enfrentaram adequadamente a alta volatilidade dos preços dos alimentos. Vários deles ampliaram seus programas de transferência de renda, que garantem o acesso a alimentos a boa parte da população pobre. Contudo, é fundamental para 2012 que não baixem a guarda e se mantenham alerta pelas ameaças que uma recessão poderia representar para a segurança alimentar dos mais pobres, que sofrem os piores embates das idas e vindas internacionais.
* Alan Bojanic é representante regional ad interim da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) para América Latina e Caribe. Excluída sua publicação na Colômbia. Direitos reservados IPS.
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