quinta-feira, 8 de março de 2012

Atividades pesqueiras ultrapassam os limites da sustentabilidade e mobiliza o Banco Mundial


O estudo “Global population trajectories of tunas and their relatives”, publicado em fevereiro de 2012 na revistaProceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), mostra que o impacto da pesca do atum e espécies semelhantes durante os últimos 50 anos diminuiu a abundância de todas essas populações por uma média de 60%. Especialistas acrescentam que a maioria das espécies de atum tem sido explorada para além dos limites da sustentabilidade.


O debate sobre o impacto da pesca nas diferentes espécies já dura 50 anos. As populações que tiveram sua abundância mais afetada foram os atuns de água fria, como o atum-rabilho, que diminuíram 80%. Essas espécies são grandes, de longa duração e de grande valor econômico.

Cavala, um peixe menor com ciclo de vida mais curto, também experimentou uma redução significativa em abundância. Essa informação sugere que a pesca pode ser uma ameaça a todas as espécies, independentemente da sua dimensão.

María José Juan-Jordá, pesquisador da Universidade da Coruña (Espanha) e autor principal do estudo, declarou que "os resultados deste estudo, que são baseados em uma compilação de estimativas, mostram uma situação global de que as populações de atum difere das mais sombrias interpretações passadas."

Outro estudo publicado na revista Nature em 2003 concluiu que a abundância de peixes pelágicos, principalmente o atum, havia reduzido em 90% no século passado.

Os cientistas acreditam que a gestão de pescas precisa melhorar. Os peixes com maior valor econômico são os mais sobreexplorados. Há claramente pessoas que se beneficiam economicamente da pesca ilegal de atum-rabilho, caso em que o comércio internacional vai além das normas internacionais de pesca.

Juan-Jorda acrescenta que “as organizações de gestão de pesca não devem apenas usar seus recursos para gerenciar as espécies de alto valor, como o atum grande, mas também para as espécies de menor valor econômico, que são importantes, pois são uma grande fonte de proteína para muitos países”.

Os pesquisadores dizem que esforços sérios e ações eficazes são necessários para reduzir a pesca excessiva global, para recuperar populações sobreexploradas e para regulamentar o comércio que as põe em perigo. Só assim poderemos garantir capturas maiores, lucros financeiros estáveis e redução do impacto nos ecossistemas marinhos.

Veja abaixo uma revisão de outros artigos já publicados sobre a sobrepesca (clique nos nomes dos artigos para acessar os links respectivos).

O estudo “Estimating the Worldwide Extent of Illegal Fishing”, publicado na PLoS One em 2009, estimou que as perdas globais com a pesca ilegal e não declarada são estimadas de US$ 10 a 23,5 bilhoes por ano. Analisando dados de pesca de 54 países estimaram que a pesca ilegal coleta de 11 a 26 milhões de toneladas por ano. Os autores encontraram uma forte ligação entre a governança e a pesca ilegal – as práticas ilícitas são as mais frequentes nos países em desenvolvimento, com pouca fiscalização e aplicação da lei. Estimativa das capturas na África Ocidental foram 40% superiores ao oficialmente declarado.

Os autores observam que a pesca ilegal é um importante indutor da sobrepesca, que esgota os recursos marinhos e tem grandes impactos ecológicos, com efeitos significativos sobre os recursos pesqueiros. Por exemplo, a pesca ilegal e não declarada do atum bluefin do Mediterrâneo contribuiu significativamente para o rápido declínio do estoque e uma falha por parte da União Européia (UE) para controlar as capturas não declaradas do bacalhau do Mar do Norte também impediu a recuperação do estoques, até muito recentemente, quando a UE aumentou a vigilância e o controle da pesca.

Os pesquisadores também observaram que existe uma relação direta entre a pesca ilegal e não declarada com o esgotamento dos estoques de diversas espécies. A pesca ilegal gera danos colaterais significativos nos ecossistemas. A pesca ilegal, pela sua própria natureza, não respeita as ações nacionais e internacionais destinadas a reduzir as capturas acessórias e reduzir a mortalidade acidental de animais marinhos, como tubarões, tartarugas, aves e mamíferos.

Em outro estudo, “Ecosystem Overfishing in the Ocean“, também publicado pela revista online Plos ONE, foram avaliados os severos impactos da sobrepesca nos ecossistemas marinhos e seu crescente empobrecimento. Este estudo foi discutido em matéria de 2009: “Estudo avalia o impacto da sobrepesca nos ecossistemas marinhos“.

Reveja ainda outras matérias já publicadas e que discutem os crescentes impactos da pesca excessiva nos ecossistemas marinhos: “A um passo do colapso dos oceanos”; “Sobrepesca européia ameaça o atum azul”; “Um terço da captura mundial de peixe é desperdiçado na produção de ração animal”; “Assim no mar, como na terra”; “Pesca predatória desperdiça 50 bilhões de dólares”; “Estudo aponta aumento de ‘zonas mortas’ nos oceanos”; “Oceanos à beira do precipício”.

Considerando o cenário acima, o Banco Mundial (Bird) advertiu no dia 24 de fevereiro que os oceanos estão em perigo e propôs que governos, ONGs e outros grupos se associem para protegê-los, uma tarefa para a qual será necessário arrecadar US$ 1,5 bilhão em cinco anos. Durante a Cúpula dos Oceanos do Mundo, que aconteceu em Cingapura, o presidente do  Bird, Robert Zoellick anunciou a criação da “Associação Global para os Oceanos”, para combater a sobrepesca e a degradação do meio marinho.

O economista apresentou a iniciativa para reunir “países, centros científicos, organizações internacionais, fundações e o setor privado para compartilhar conhecimentos, experiência, perícia e investimentos ao redor de um conjunto de objetivos estabelecidos”.

Zoellick propôs vários objetivos que esta associação nos próximos dez anos, incluindo a redução a menos da metade dos estoques mundiais de pescado. Para obter os meios necessários, a Associação arrecadará pelo menos US$ 300 milhões destinados a formação da aliança, anunciou o presidente do Banco Mundial. Também serão arrecadados mais US$ 1,2 bilhão para promover “oceanos saudáveis e sustentáveis”. “No total, somam 1,5 bilhão em novos compromissos ao longo de cinco anos”, disse Zoellick, antes de anunciar que o Bird organizará a primeira reunião da Associação em abril em Washington.

Outro objetivo da aliança é ajudar a reconstruir os estoques pesqueiros do planeta, já que cerca de 85% das áreas de pesca dos oceanos estão classificadas como totalmente exploradas, superexploradas ou até mesmo esgotadas. Incluindo a maioria das reservas das 10 espécies principais, segundo Zoellick. “Os fatos não mentem e as estatísticas mostram que não estamos fazendo o suficiente (…) e que os oceanos continuam doentes e morrendo”, declarou.

A Associação também tem como objetivo aumentar os lucros líquidos anuais da pesca em até US$ 30 bilhões de dólares, contra as perdas atuais, calculadas em bilhões de dólares por ano. As zonas marinhas protegidas devem dobrar, já que atualmente menos de 2% da superfície dos oceanos está protegida, enquanto 12% da terra está preservada.

O diretor do Bird destacou que mesmo poucas ações terão um grande impacto. Nos países em desenvolvimento, os peixes e frutos do mar são a principal fonte de proteínas para um bilhão de pessoas. Além disso, mais de 500 milhões de pessoas têm a pesca como meio de vida. Nestas nações, o peixe é o alimento mais comercializado. Em muitos Estados insulares do Pacífico, eles representam 80% das exportações. Os oceanos também prestam inúmeros serviços ambientais: são a principal fonte de oxigênio do planeta, ajudam a regular o clima e as suas formações costeiras protegem áreas povoadas de tempestades e outros desastres naturais, benefícios geralmente tidos como certos.


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