quarta-feira, 28 de março de 2012


Passivo climático sobre os oceanos é de US$ 2 trilhões

Autor: Fernanda B. Mûller 

Cientistas calcularam quanto a humanidade perderá em serviços ambientais oceânicos até o fim do século devido aos impactos das mudanças climáticas em conjunto com outras ameaças que impomos ao bioma marinho.

O costume de não planejar o caminho para se alcançar determinados objetivos não é exclusividade dos brasileiros, esta cultura do curto prazo é uma característica generalizada da humanidade e já estamos pagando o preço por décadas de descaso.
Um novo estudo envolvendo pesquisadores internacionais e coordenado pelo Instituto Ambiental de Estocolmo (SEI, em inglês) estima que apenas as mudanças do clima podem reduzir o valor econômico dos recursos marinhos em até US$ 2 trilhões ao longo deste século.
"Valorando o Oceano", que será publicado na forma de um livro revisado por cientistas até o final do ano, ressalta que precisamos urgentemente de uma abordagem integrada para proteção das imensidões azuis.
Grande parte do estudo se dedica à quantificação dos custos da degradação dos oceanos, geralmente invisível nas análises de custo-benefício incluídas nas políticas atuais. Os custos são avaliados ao longo dos próximos 50 e 100 anos sob cenários de altas e baixas emissões e em cinco categorias: pesca, turismo, aumento do nível do mar, tempestades e estoque de carbono.
"O montante relacionado à inação aumenta muito com o tempo, um fator que precisa ser reconhecido integralmente na contabilização das mudanças do clima", alerta Frank Ackerman, diretor do Grupo de Economia Climática do SEI-Estados Unidos.
Apesar de a mudança no clima ser uma ameaça gigantesca, não é a única. Um ponto chave do relatório é que a convergência de estressores múltiplos - acidificação, aquecimento, hipoxia, aumento do nível do mar, poluição e sobreuso dos recursos marinhos - podem levar a danos muito maiores do que individualmente.
O estudo não coloca um valor monetário sobre os danos totais projetados, muitos deles sendo perdas incalculáveis como a erradicação de espécies, mas argumenta que com as informações que já temos, os líderes mundiais deveriam agir com precaução, rigidez e de forma integrada (considerando todas as nossas ações que impactam os oceanos).
“O oceano é um grande contribuinte para a economia dos países, e um ator elementar na história de mudanças ambientais na Terra, mesmo assim é cronicamente negligenciado”, lamentou Kevin Noone, coeditor do relatório e membro da Academia Sueca de Ciências.
“Precisamos urgentemente designar um sistema de gerenciamento que trabalhe ao longo das escalas local até global, e que nos permita otimizar o uso dos recursos marinhos de forma sustentável dadas as ameaças simultâneas e geralmente sinérgicas”, ponderou a neozelandesa Julie Hall, outra coautora do estudo.
Além da inclusão da questão em planos econômicos e de desenvolvimento, os autores pedem medidas locais, como a criação de Áreas Marinhas Protegidas, visando melhorar a resiliência dos ecossistemas em casos de eventos extremos (branqueamento de corais, tempestades, etc).
Atlas do Carbono nos Oceanos
Complementando o estudo do SEI, a Comissão Intergovernamental Oceanográfica da UNESCO lançou o Atlas do Carbono na Superfície dos Oceanos, fornecendo registros de 40 anos da acumulação de dióxido de carbono na superfície do oceano.
A absorção líquida de CO2 pelos oceanos auxilia na redução da concentração de gases do efeito estufa na atmosfera, porém o aumento na quantidade de carbono nos mares causa a sua acidificação, ameaçando a vida dos organismos marinhos.
Para tornar o banco de dados amigável para os usuários, ele foi disponibilizado na rede através de uma ferramenta sofisticada de visualização e manipulação online chamada Live Access Server, oferecendo mapas interativos.
Imagem: Carbono na superfície marinha do Atlântico Tropical.

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