quinta-feira, 29 de março de 2012

Carta do Amazonas marca a terceira edição do Fórum Mundial de Sustentabilidade

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Brice Lalonde (foto, à dir.) coordenador executivo da Rio+20, defendeu que o Brasil deva liderar as discussões ambientais/Foto: Divulgação

Cerca de 900 lideranças empresariais e políticas, pesquisadores e organizações socioambientais estiveram reunidos em Manaus (Amazonas) nos dias 22 e 24 de março, onde participaram do terceiro Fórum Mundial de Sustentabilidade. O evento, que teve como tema principal "Economia Verde e Desenvolvimento Sustentável", destacou o papel das florestas e o valor socioambiental agregado, além de outros assuntos que serão abordados na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), marcada para junho, no Rio de Janeiro.

O principal resultado do fórum, que reuniu nomes como Gro Bruntland (uma das precursoras do conceito de desenvolvimento sustentável), Brice Lalonde (coordenador executivo da Rio+20) e Kumi Naidoo (diretor executivo do Greenpeace), foi a elaboração da Carta do Amazonas, documento formado por dez metas referentes à sustentabilidade, que incluem a aprovação de um acordo internacional paraimplementar o Redd+ como mecanismo de conservação das florestas nativas, o estabelecimento de metas para a universalização do acesso à energia limpa até o ano de 2030 e a o desenvolvimento de uma plataforma ambiental em nível municipal como prioridade, que explicite compromissos a serem assumidos por governantes locais, com especial atenção à universalização do saneamento básico, ao incentivo à construção sustentável e à promoção da educação ambiental e do consumo consciente.
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Bianca Jagger criticou a construção da usina de Belo Monte/Foto: Divulgação
A ativista social e ambiental Bianca Jagger abordou o tema “Desenvolvimento sustentável e direitos humanos” no evento. Embaixadora da Boa Vontade do Conselho Europeu, ela lembrou que a Amazônia é um tesouro extraordinário, o lar de várias espécies e que já perdemos 754 km2 da floresta amazônica. A também idealizadora da fundação Bianca Jagger defendeu o investimento em energias sustentáveis. “Dizem que as energias renováveis são caraa, mas veja quanto está custando a construção de Belo Monte”, questionou, em uma referência a usina no Rio Madeira que, segundo ela, irá afetar negativamente a população local. “Não podemos sacrificar as gerações atuais e futuras em prol do desenvolvimento. Temos que ter governança”, defendeu.
Pagamento por Serviços Ambientais
Para Virgilio Viana, superintendente da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), o desafio é parar o desmatamento da Amazônia. “Ninguém desmata porque é burro, mas porque são inteligentes, racionais e porque querem melhorar de vida. A lógica é fazer com que o desenvolvimento econômico seja a favor da floresta e não contra”, sugeriu. Viana apresentou informações sobre o Programa Bolsa Floresta, que investe em programas de geração de renda que evitam o desmatamento.
Steve Bass, chefe do Grupo de Mercados Sustentáveis do IIED (Instituto Internacional para o Ambiente e Desenvolvimento), falou sobre PSA (Pagamento por Serviços Ambientais), durante o painel que teve também a participação do senador Eduardo Braga e do deputado Arnaldo Jardim. O PSA é um mecanismo que estabelece pagamento àqueles que protegem as florestas nativas ou pratica iniciativas amigáveis ao meio ambiente, em benefício da sociedade.
Segundo Bass, a Costa Rica é pioneira no PSA, tendo conseguido consolidar a modalidade como política pública, por meio de legislação específica e um fundo público-privado. "O Brasil tem todas as cartas na manga para desenvolver um modelo de negócios nesse sentido, pois tem a Floresta Amazônica, com toda a sua biodiversidade. Por isso, precisamos muito da liderança mundial de vocês nesse sentido", enfatizou.
Já Almir Suruí, chefe do povo indígena Paiter Suruí (Rondônia), falou sobre “A economia verde e os povos da floresta”. Ele lembrou que a Amazônia possui 200 povos indígenas e outros 60 sem contato. “Até agora as políticas públicas e privadas não chegam às comunidades em que deveriam”. Suruí conclamou os empresários para participar da criação de um modelo de desenvolvimento da Amazônia. “Para nós, economia verde é desenvolvimento sustentável com valorização da floresta e do seu povo”, finalizou.
Oskar Metsavaht, estilista e empresário, fundador e presidente da grife Osklen, abordou a “Sustentabilidade e a indústria do desejo”. Na visão dele, além de beleza e estética, a sociedade também tem valores socioambientais. “Somos um país com população que precisa melhorar de vida. O Brasil precisa se desenvolver economicamente e tem espaço enorme, aproveitando nossa biodiversidade, para se tornar um país desenvolvido, igualitário na renda e de maneira sustentável", destacou. “Enquanto não tivermos valor agregado, vamos continuar apenas vendedores de commodities e falando apenas de caridade". “Temos que mostrar que é mais interessante comprar produtos sustentáveis do Brasil do que de marcas famosas dos Estados Unidos, de mão de obra barata da China”, completou.
Para Brice Lalonde, diretor executivo da Rio+20, há uma falta de liderança hoje em várias partes do mundo. "Eu acho que este é o momento de o Brasil, um país tão entusiasta, liderar essas discussões mundialmente", sustentou. Ele vê como necessária a criação de uma Agência Mundial de Meio Ambiente:"não podemos confrontar desenvolvimento e meio ambiente, por isso, temos que ter uma agência ambiental e um conselho para o desenvolvimento sustentável".
Mudanças climáticas
O diretor executivo do Greenpeace, Kumi Naidoo, proferiu a palestra “A responsabilidade das empresas por sua pegada ambiental”. Ele fez um apelo aos empresários e governantes brasileiros para que atuem junto com os ambientalistas para encontrar soluções que permitam o desenvolvimento sustentável aliado a um crescimento econômico que permita oportunidades de empregos para todos. “Podemos quebrar as dicotomias que dividiram o mundo até hoje, pois as mudanças climáticas vão trazer consequências para todos. Precisamos agir como uma família global, pois, se errarmos, todos vamos sucumbir e os impactos serão devastadores, afirmou. Na opinião dele, o modelo de crescimento econômico atual é insustentável porque não promove a igualdade nem oportunidades de emprego.
“Os impactos climáticos estão ocorrendo agora e roubando 350 mil vidas anualmente. E quem paga primeiro são os que têm menos responsabilidade por isso” - Kumi Naidoo.
O diretor do Greenpeace criticou o Protocolo de Kyoto. “Ficamos esperando soluções e o que recebemos foi um acordo fraco e cheio de lacunas e metas que não serão alcançadas”, apontou. Naidoo convidou a todos os empresários presentes a visitarem o Rainbow Warrior, navio do Greenpeace que está atracado em Manaus. A embarcação tem como objetivo promover uma campanha por uma lei de desmatamento zero.
Ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues apresentou a palestra “Perspectivas para a agricultura de baixo carbono no Brasil”. Ele destacou as iniciativas da academia, particularmente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), no sentido de melhorar a produtividade da agricultura brasileira com boas práticas ambientais. “Há empresas que só se preocupam com negócios, mas eu tenho confiança de que isso está mudando e de que os avanços que a academia brasileira está promovendo são muito positivos", ressaltou.
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Ex-primeiro ministro da França, Villepin elogiou medidas adotadas pelo Brasil / Foto: Divulgação
Já o ex-primeiro ministro da França, Dominique Villepin, enumerou o papel de liderança mundial do Brasil nas questões ambientais e de sustentabilidade. “Vocês são o país do possível e a Amazônia pode se tornar um modelo de desenvolvimento sustentável para criar oportunidades econômicas”. Villepin elogiou iniciativas adotadas pelo país, como o programa Bolsa Família e a criação de parques nacionais, e defendeu as parcerias regionais entre Brasil e Europa.
No encerramento do evento, João Doria Jr., presidente do Grupo de Líderes Empresarias (Lide), leu a Carta do Amazonas. No documento, a organização que promoveu o fórum, (realizado pela XYZ LIVE) firma o compromisso de mobilizar a sociedade brasileira pela aprovação de uma legislação nacional de pagamentos por serviços ambientais, ao reconhecer este mecanismo como fundamental para garantir o desenvolvimento sustentável, além de destacar outros nove itens.

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