Estudo mapeia as principais ameaças ao Pantanal
Quem analisa os riscos ambientais do Pantanal somente do ponto de vista da taxa de desmatamento do bioma pode estar deixando de levar em conta uma ameaça ainda maior. A região corre perigo, principalmente pela degradação de nascentes e barramento de rios que fluem de áreas de planalto para a planície pantaneira.
A bacia pantaneira, considerada a maior área úmida continental do planeta, está inserida dentro da Bacia do Alto Paraguai. É na parte alta da bacia, localizada ecológica e geograficamente no Cerrado, onde estão todas as nascentes dos rios que vão abastecer a planície que está embaixo. E no planalto, a ameaça do agronegócio é bem mais feroz.
“A área é muito frágil, está sujeita a tudo o que acontece rio acima. Um intenso assoreamento, por exemplo, vai levar os sedimentos para a planície. Ao menos para o caso do Pantanal, avaliar o desmatamento só do bioma não é suficiente”, afirma Michael Becker, coordenador do Programa Cerrado Pantanal da WWF. “Tem de ver o que está acontecendo na bacia como um todo”, complementa.
Ele se baseia no estudo “Análise de Risco Ecológico da Bacia do Rio Paraguai”, lançado no dia 02 de fevereiro, data em que se comemora o Dia Mundial das Zonas Úmidas, e o Pantanal, parte da bacia do Paraguai, é a maior área úmida continental do planeta. Este documento, feito em parceria pela WWF, The Nature Conservancy e Centro de Pesquisas Pantanal, mapeou as principais ameaças ao bioma. O trabalho apontou que metade da bacia pantaneira está sob alto e médio risco de comprometimento dos recursos hídricos.
Os mais de 30 especialistas que participaram do estudo cruzaram dados reunidos em três anos de pesquisa e análise para listar como sendo as principais ameaças à bacia do rio Paraguai: as hidrelétricas (barragens alteram o regime hídrico natural); a urbanização (obras de infraestrutura, como rodovias, barragens, portos e hidrovias); e o avanço da agropecuária (desmatamento e manejo inadequado de terras causam erosões e sedimentação de rios).
De acordo com Becker, 128 usinas hidrelétricas (incluindo Pequenas Centrais Hidrelétricas) podem no futuro próximo entrar em atividade na região – metade ainda está em fase de planejamento. “Isso pode acabar atuando como um ‘torniquete nas veias’ do Pantanal”, diz.
A pesquisa sugere que 14% da bacia (justamente os pontos identificados com alto risco) precisa “com urgência” ser protegida como unidade de conservação, por ser considerada essencial para o fornecimento de água e manutenção do ciclo das cheias. Hoje, somente 11% dessa região conta com algum tipo de proteção, sendo apenas 5% com proteção integral. Apesar de ser o bioma mais ameaçado, o Cerrado é um dos menos protegidos, com apenas 2% de sua área sob proteção integral. Por outro lado, o Pantanal ainda é o bioma menos degradado do País, com 84,69% de sua área ainda “intacta”.
“Fora isso, é importante incentivar boas práticas agrícolas que impactem menos. Não achamos que os agricultores tenham de sair de lá, mas reformular a maneira como eles manejam a área”, afirma.
No caso de hidrelétricas em operação, os autores do trabalho sugerem que uma forma de mitigar os impactos é implementar esquemas de operação que mantenham os ciclos de cheias e vazantes de modo semelhante ao natural. Para barragens em planejamento, Becker afirma que na hora de avaliar o risco ambiental desses empreendimentos é preciso pensar que o impacto é cumulativo. “Não dá para pensar em cada um individualmente, mas em todos os empreendimentos juntos.”
O rio Paraguai nasce na região de Diamantino (MT) e percorre 2,6 mil quilômetros até encontrar o rio Paraná, já em Corrientes (Argentina). Sua bacia cobre 1,2 milhão de quilômetros quadrados em quatro países (Brasil, Bolívia, Paraguai e Argentina), incluindo o Pantanal. Vivem na região da bacia do rio Paraguai cerca de 8 milhões de pessoas, com uma economia concentrada na pecuária, que conta com 30 milhões de cabeças de gado. É ainda a região onde existe uma das maiores reserva de água doce do planeta. Estudo da Embrapa de 2008 estimou em US$ 112 bilhões por ano os serviços ambientais prestados pelo bioma.
Cerca de 15% da cobertura vegetal do Pantanal já foi destruída pelos cultivos de soja e pelos pastos para o gado, estima o WWF. Isto alarma o canadense Pierre Girard, especialista em hidrologia do Centro de Pesquisas do Pantanal. "A soja é cultivada onde nascem os rios que alimentam e formam posteriormente o Pantanal. Há riscos de erosão, mas também de contaminação do Pantanal por agrotóxicos e herbicidas", assegura.
Para o biólogo, a proteção da bacia do rio Paraguai é vital para conservar a extraordinária riqueza da fauna e da flora, que possui 4,5 mil espécies diferentes. "Portanto, é necessário proteger as fontes de água, criar mais zonas protegidas e melhorar as práticas agroalimentícias", assegura Kimura.
fonte: http://novo.maternatura.org.br/news.php?news=639
Quem analisa os riscos ambientais do Pantanal somente do ponto de vista da taxa de desmatamento do bioma pode estar deixando de levar em conta uma ameaça ainda maior. A região corre perigo, principalmente pela degradação de nascentes e barramento de rios que fluem de áreas de planalto para a planície pantaneira.
A bacia pantaneira, considerada a maior área úmida continental do planeta, está inserida dentro da Bacia do Alto Paraguai. É na parte alta da bacia, localizada ecológica e geograficamente no Cerrado, onde estão todas as nascentes dos rios que vão abastecer a planície que está embaixo. E no planalto, a ameaça do agronegócio é bem mais feroz.
“A área é muito frágil, está sujeita a tudo o que acontece rio acima. Um intenso assoreamento, por exemplo, vai levar os sedimentos para a planície. Ao menos para o caso do Pantanal, avaliar o desmatamento só do bioma não é suficiente”, afirma Michael Becker, coordenador do Programa Cerrado Pantanal da WWF. “Tem de ver o que está acontecendo na bacia como um todo”, complementa.
Ele se baseia no estudo “Análise de Risco Ecológico da Bacia do Rio Paraguai”, lançado no dia 02 de fevereiro, data em que se comemora o Dia Mundial das Zonas Úmidas, e o Pantanal, parte da bacia do Paraguai, é a maior área úmida continental do planeta. Este documento, feito em parceria pela WWF, The Nature Conservancy e Centro de Pesquisas Pantanal, mapeou as principais ameaças ao bioma. O trabalho apontou que metade da bacia pantaneira está sob alto e médio risco de comprometimento dos recursos hídricos.
Os mais de 30 especialistas que participaram do estudo cruzaram dados reunidos em três anos de pesquisa e análise para listar como sendo as principais ameaças à bacia do rio Paraguai: as hidrelétricas (barragens alteram o regime hídrico natural); a urbanização (obras de infraestrutura, como rodovias, barragens, portos e hidrovias); e o avanço da agropecuária (desmatamento e manejo inadequado de terras causam erosões e sedimentação de rios).
De acordo com Becker, 128 usinas hidrelétricas (incluindo Pequenas Centrais Hidrelétricas) podem no futuro próximo entrar em atividade na região – metade ainda está em fase de planejamento. “Isso pode acabar atuando como um ‘torniquete nas veias’ do Pantanal”, diz.
A pesquisa sugere que 14% da bacia (justamente os pontos identificados com alto risco) precisa “com urgência” ser protegida como unidade de conservação, por ser considerada essencial para o fornecimento de água e manutenção do ciclo das cheias. Hoje, somente 11% dessa região conta com algum tipo de proteção, sendo apenas 5% com proteção integral. Apesar de ser o bioma mais ameaçado, o Cerrado é um dos menos protegidos, com apenas 2% de sua área sob proteção integral. Por outro lado, o Pantanal ainda é o bioma menos degradado do País, com 84,69% de sua área ainda “intacta”.
“Fora isso, é importante incentivar boas práticas agrícolas que impactem menos. Não achamos que os agricultores tenham de sair de lá, mas reformular a maneira como eles manejam a área”, afirma.
No caso de hidrelétricas em operação, os autores do trabalho sugerem que uma forma de mitigar os impactos é implementar esquemas de operação que mantenham os ciclos de cheias e vazantes de modo semelhante ao natural. Para barragens em planejamento, Becker afirma que na hora de avaliar o risco ambiental desses empreendimentos é preciso pensar que o impacto é cumulativo. “Não dá para pensar em cada um individualmente, mas em todos os empreendimentos juntos.”
O rio Paraguai nasce na região de Diamantino (MT) e percorre 2,6 mil quilômetros até encontrar o rio Paraná, já em Corrientes (Argentina). Sua bacia cobre 1,2 milhão de quilômetros quadrados em quatro países (Brasil, Bolívia, Paraguai e Argentina), incluindo o Pantanal. Vivem na região da bacia do rio Paraguai cerca de 8 milhões de pessoas, com uma economia concentrada na pecuária, que conta com 30 milhões de cabeças de gado. É ainda a região onde existe uma das maiores reserva de água doce do planeta. Estudo da Embrapa de 2008 estimou em US$ 112 bilhões por ano os serviços ambientais prestados pelo bioma.
Cerca de 15% da cobertura vegetal do Pantanal já foi destruída pelos cultivos de soja e pelos pastos para o gado, estima o WWF. Isto alarma o canadense Pierre Girard, especialista em hidrologia do Centro de Pesquisas do Pantanal. "A soja é cultivada onde nascem os rios que alimentam e formam posteriormente o Pantanal. Há riscos de erosão, mas também de contaminação do Pantanal por agrotóxicos e herbicidas", assegura.
Para o biólogo, a proteção da bacia do rio Paraguai é vital para conservar a extraordinária riqueza da fauna e da flora, que possui 4,5 mil espécies diferentes. "Portanto, é necessário proteger as fontes de água, criar mais zonas protegidas e melhorar as práticas agroalimentícias", assegura Kimura.
fonte: http://novo.maternatura.org.br/news.php?news=639
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