terça-feira, 6 de março de 2012

Sede implacável - Mais de 90% da água do planeta é usada na agricultura


Sinal vermelho no campo: a agricultura, como praticada hoje na maior parte do mundo, é insustentável e apodera-se de 92% da água doce do planeta. O alerta foi feito com o artigo “The water footprint of humanity”, publicado em 13 de fevereiro  na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), assinado pelos pesquisadores holandeses Arjen Hoekstra, criador do conceito “pegada hídrica”, e Mesfin Mekonnen.
A expressão refere-se à quantidade de água usada em toda a cadeia produtiva. O Brasil é, hoje, o quarto país com maior consumo deste recurso, e o quarto entre aqueles que exportam mais bens cuja produção requer grande volume de água, como os primários.

A dupla estimou a pegada hídrica média de cada país e setor econômico, baseando-se no consumo nacional de produtos e no comércio global de commodities, entre outras estatísticas, compiladas entre 1996 e 2005. A demanda de água doce das plantações surpreendeu os pesquisadores, visto que este percentual, em levantamentos anteriores, foi mais baixo.

Para Hekstra, diretor científico da ONG Water Footprint Network, a agricultura pode adotar modos de produção mais sustentáveis, principalmente em áreas secas. O Brasil, embora esteja entre os maiores consumidores de água, preocupa o pesquisador por outro motivo: a procura por água doce que o país terá de administrar, vinda no futuro de outras nações.

O pesquisador considera que o interesse de alguns países latino-americanos — Brasil e Chile à frente — pelo conceito de pegada hídrica é “maior do que em outras regiões do mundo”. No ano passado, Hekstra foi a São Paulo e revelou que um brasileiro consome, em média, 3.780 litros de água por dia, entre o que vem de casa (5%) e de produtos industriais e agrícolas (95%). Só uma xícara de café exige 140 litros de água, considerando o líquido necessário para plantio e produção da bebida.

Como ocorre em todos os recursos, normalmente o consumo é muito maior em nações desenvolvidas do que nos países em desenvolvimento. A pegada hídrica per capita dos Estados Unidos, por exemplo, é mais do que o dobro da média global. Há, porém, exceções à regra.

“Alguns países industrializados têm uma pegada hídrica relevante por causa de seu grande consumo, principalmente de carne”, explica Hekstra. “Mas a Bolívia, por exemplo, também conta com uma grande gasto d’água por habitante; e não por causa de um consumo significativo, mas devido à sua produção agrícola ineficiente”.

Hekstra admite ser difícil prever como será o comércio no futuro. Mas, segundo ele, alguns cenários parecem inevitáveis. A China é a protagonista dos mais inquietantes. O país, lembra, já lida com uma grande escassez de água; por isso, precisará importar uma quantidade crescente de commodities. A América do Norte, que também sofre com carência de água doce em algumas regiões, terá de recorrer mais vezes aos vizinhos do sul.

“A América Latina vai se tornar a maior exportadora do mundo de produtos que necessitam de um grande volume de água”, revela. “Por isso é essencial que o uso sustentável desse recurso seja assegurado. Provavelmente a pressão sobre suas reservas crescerá mais rápido que deveria, se considerássemos apenas o crescimento da população e da economia desses países”, completa. 

Clique aqui para ler o artigo The water footprint of humanity (em inglês).



fonte: http://novo.maternatura.org.br/news.php?news=639

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