Panorama Ambiental Global 5 (GEO-5) dispara alarme ambiental
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) divulgou, no dia 6 de junho, a quinta edição do relatório Panorama Ambiental Global (Global Environmental Outlook, GEO-5). Considerado a mais importante das avaliações sobre o estado do meio ambiente e das tendências ambientais globais, sua elaboração envolveu mais de 600 especialistas de todo o mundo durante três anos.
O GEO-5 analisou 90 objetivos ambientais globais acertados internacionalmente nos últimos 40 anos e constatou que apenas quatro apresentaram progresso: fim da produção e uso de substâncias que destroem a camada de ozônio, eliminação do chumbo nos combustíveis, acesso crescente a fontes de água e mais pesquisas para reduzir a poluição no mar. O número é inferior ao de objetivos que tiveram retrocesso - oito no total, entre eles a proteção dos recifes de coral, pois desde 1980 eles sofreram redução de 38%. Outros 40 registraram poucos avanços e 24 praticamente não apresentaram nenhum progresso, como aquelas com o objetivo de abordar a mudança climática, o esgotamento dos recursos pesqueiros e a expansão da desertificação. Além disso, 14 não puderam ser avaliados devido à falta de dados mensuráveis.
O Pnuma exortou os governos a concentrarem suas políticas sobre os principais fatores causadores de mudanças climáticas, destacando o crescimento populacional e urbanização, o consumo de energia baseada nos combustíveis fósseis e da globalização. O tempo é curto, disse o subsecretário-geral da ONU e diretor-executivo do Pnuma, Achim Steiner, enquanto o planeta caminha para os 9 bilhões de pessoas até 2050 e a economia global consome quantidades cada vez maiores de recursos naturais.
Apesar do panorama sombrio das últimas duas décadas, o estudo identificou alguns avanços nas 40 metas, inclusive na que prevê a expansão de areas protegidas e esforços para reduzir o desmatamento. O executivo do Pnuma elogiou medidas de sucesso que estão sendo tomadas por algumas nações para conter a devastação dos recursos naturais e o aquecimento global. “Estudamos centenas de políticas realizadas individualmente por alguns países e descobrimos que muitos conseguiram avançar na proteção do meio ambiente, como a adoção de mecanismos de pagamentos por serviços ecossistêmicos no Vietnã, políticas no Brasil para diminuir o desmatamento na Amazônia, a reabilitação de pastagens na Síria e gestão melhorada de recursos hídricos no Iêmen, entre outros”.
Entre os destaques negativos do relatório, pouco se avançou no enfrentamento das causas das mudanças climáticas ou na proteção da biodiversidade.
Mantido o ritmo atual, as emissões de gases de efeito estufa podem dobrar nos próximos 50 anos, aumentando a temperatura global em 3ºC ou mais até o final do século. O relatório revela que o período de 2000 a 2009 foi o mais quente já registrado e que, em 2010, o mundo emitiu as mais altas taxas de gases provenientes da queima de combustíveis fósseis e da produção de cimento. As emissões globais de dióxido de carbono aumentaram quase 40% entre 1992 e 2010, lideradas principalmente pelo rápido crescimento nas grandes nações em desenvolvimento como Brasil, China e Índia, mostraram os dados do Pnuma.
Os cientistas relacionaram a queima de combustíveis fósseis – carvão, petróleo e gás natural – a uma aceleração das mudanças climáticas, como secas severas e inundações. As inundações aumentaram 230%, enquanto que as secas, 38%, entre os anos de 1980 e 2000. O estudo adverte que, caso a temperatura mundial aumente para 2,5ºC, os prejuízos econômicos em consequência do aumento da temperatura são estimados entre 1 e 2% do PIB mundial todos os anos até 2100. Só em impactos e desastres provocados pelas mudanças do clima, o custo de adaptação de zonas costeiras, que sofrem ações diretas do aumento do nível dos mares e de tempestades, é estimado entre US$ 26 e US$ 89 bilhões até 2040.
Steiner, reforçou que a mudança do clima é hoje o maior desafio que a humanidade enfrenta, pois ainda não se encontrou nenhum mecanismo político viável para conter o problema. “O futuro das mudanças climáticas, da segurança alimentar, da pesca nos oceanos, da agricultura e do transporte público são escolhas que vão determinar o desenvolvimento sustentável de nossa sociedade. Hoje não temos uma solução nas arenas políticas”, argumentou.
O mundo também não conseguiu alcançar a meta dos Objetivos do Milênio de reduzir significativamente a taxa de perda de biodiversidade até 2010. A biodiversidade está em declínio, principalmente nos trópicos, com uma queda de 30% desde 1992. De acordo com o estudo, 20% das espécies globais de vertebrados estão ameaçadas. Os corais são os organismos vivos mais ameaçados de iminente extinção, sendo que desde a década de 1980, os recifes sofreram uma redução de 38% e as projeções para 2050 apontam para o seu fim.
O GEO-5 também divulgou que mais de 30% da superfície terrestre são usados para produção agrícola e alguns habitats naturais sofreram reduções de mais de 20% nos últimos trinta anos. Em maio, por meio da publicação Relatório Planeta Vivo 2012, o grupo ambientalista WWF disse que o mundo teria de ser 50% maior para ter terra e florestas suficientes para os níveis atuais de consumo e emissões de carbono.
“A erosão da biodiversidade é um processo que vem ocorrendo há séculos e estamos perdendo espécies diariamente a taxas alarmantes e as mudanças climáticas podem acelerar e muito essa perda”, avalia o secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência e Tecnologia do Brasil, Carlos Nobre, que integrou o painel de cientistas que elaboraram o relatório.
De acordo com a pesquisa global, o processo de "savanização" da Floresta Amazônica está em pleno acontecimento e não resistiria a um desmatamento de 40% da sua área (hoje, está taxa está em torno de 20%), ou então ao aumento da temperatura global em 4°C. "Se queremos ter todos os recursos que ela reserva a longo prazo, não é suficiente apenas políticas públicas dos países amazônicos, é preciso um esforço mundial para que se diminua os riscos do aquecimento global.
Em relação à água, o GEO-5 fala em 600 milhões de pessoas no mundo que não terão acesso ao recurso natural mais importante do planeta, até 2015, enquanto que 2,5 bilhões de habitantes do planeta não terão saneamento básico. A qualidade da água nos principais sistemas fluviais ao redor do mundo também não atende ao padrão estabelecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
O capítulo ‘América Latina e Caribe’ do relatório divulgado pelo Pnuma levanta questões sobre a gestão ambiental na região. Quase 80% da população dos 33 países da América Latina e Caribe vive em cidades, o que torna a região uma das mais urbanizadas do mundo. O aumento da população produz vários desafios. Embora a região seja rica em recursos hídricos, a expansão populacional, a urbanização e o mau gerenciamento tornam problemático o suprimento de água no futuro.
A região concentra cerca de 70% das espécies do mundo, mas registra grandes perdas de biodiversidade. As múltiplas ameaças abrangem desde a mudança climática, até pressão demográfica e práticas insustentáveis de manejo da terra. A conversão de ecossistemas naturais em sistemas produtivos é, atualmente, um dos maiores fatores de impacto sobre a biodiversidade. “Políticas que envolvam as comunidades locais são chave para encontrar soluções”, lembra Keisha Garcia, pesquisadora de Trinidad e Tobago e uma das coordenadoras do capítulo.
O uso da terra é um problema frequente na região. Em muitos lugares, a agricultura e a pecuária são produzidas de forma não sustentável, lembra o estudo. “Desde 1960, as terras agriculturáveis aumentaram 86% na América Latina, 46% na África e 36% na Ásia, coincidindo com um grande desmatamento nas três regiões no período”, diz o estudo. Na América do Sul, a terra usada para agricultura aumentou 18% entre 1970 e 2009 e a pecuária, 31%. Práticas de integração pecuária e lavoura usadas em propriedades do cerrado brasileiro aumentam a produtividade e são citadas como bons exemplos.
Clique aqui para ter acesso ao GEO-5 (em inglês – 80 MB). E acesse aqui a seção sobre o GEO-5 no portal do Pnud. Também, clique aqui e veja vídeo com mais informações.
O GEO-5 analisou 90 objetivos ambientais globais acertados internacionalmente nos últimos 40 anos e constatou que apenas quatro apresentaram progresso: fim da produção e uso de substâncias que destroem a camada de ozônio, eliminação do chumbo nos combustíveis, acesso crescente a fontes de água e mais pesquisas para reduzir a poluição no mar. O número é inferior ao de objetivos que tiveram retrocesso - oito no total, entre eles a proteção dos recifes de coral, pois desde 1980 eles sofreram redução de 38%. Outros 40 registraram poucos avanços e 24 praticamente não apresentaram nenhum progresso, como aquelas com o objetivo de abordar a mudança climática, o esgotamento dos recursos pesqueiros e a expansão da desertificação. Além disso, 14 não puderam ser avaliados devido à falta de dados mensuráveis.
O Pnuma exortou os governos a concentrarem suas políticas sobre os principais fatores causadores de mudanças climáticas, destacando o crescimento populacional e urbanização, o consumo de energia baseada nos combustíveis fósseis e da globalização. O tempo é curto, disse o subsecretário-geral da ONU e diretor-executivo do Pnuma, Achim Steiner, enquanto o planeta caminha para os 9 bilhões de pessoas até 2050 e a economia global consome quantidades cada vez maiores de recursos naturais.
Apesar do panorama sombrio das últimas duas décadas, o estudo identificou alguns avanços nas 40 metas, inclusive na que prevê a expansão de areas protegidas e esforços para reduzir o desmatamento. O executivo do Pnuma elogiou medidas de sucesso que estão sendo tomadas por algumas nações para conter a devastação dos recursos naturais e o aquecimento global. “Estudamos centenas de políticas realizadas individualmente por alguns países e descobrimos que muitos conseguiram avançar na proteção do meio ambiente, como a adoção de mecanismos de pagamentos por serviços ecossistêmicos no Vietnã, políticas no Brasil para diminuir o desmatamento na Amazônia, a reabilitação de pastagens na Síria e gestão melhorada de recursos hídricos no Iêmen, entre outros”.
Entre os destaques negativos do relatório, pouco se avançou no enfrentamento das causas das mudanças climáticas ou na proteção da biodiversidade.
Mantido o ritmo atual, as emissões de gases de efeito estufa podem dobrar nos próximos 50 anos, aumentando a temperatura global em 3ºC ou mais até o final do século. O relatório revela que o período de 2000 a 2009 foi o mais quente já registrado e que, em 2010, o mundo emitiu as mais altas taxas de gases provenientes da queima de combustíveis fósseis e da produção de cimento. As emissões globais de dióxido de carbono aumentaram quase 40% entre 1992 e 2010, lideradas principalmente pelo rápido crescimento nas grandes nações em desenvolvimento como Brasil, China e Índia, mostraram os dados do Pnuma.
Os cientistas relacionaram a queima de combustíveis fósseis – carvão, petróleo e gás natural – a uma aceleração das mudanças climáticas, como secas severas e inundações. As inundações aumentaram 230%, enquanto que as secas, 38%, entre os anos de 1980 e 2000. O estudo adverte que, caso a temperatura mundial aumente para 2,5ºC, os prejuízos econômicos em consequência do aumento da temperatura são estimados entre 1 e 2% do PIB mundial todos os anos até 2100. Só em impactos e desastres provocados pelas mudanças do clima, o custo de adaptação de zonas costeiras, que sofrem ações diretas do aumento do nível dos mares e de tempestades, é estimado entre US$ 26 e US$ 89 bilhões até 2040.
Steiner, reforçou que a mudança do clima é hoje o maior desafio que a humanidade enfrenta, pois ainda não se encontrou nenhum mecanismo político viável para conter o problema. “O futuro das mudanças climáticas, da segurança alimentar, da pesca nos oceanos, da agricultura e do transporte público são escolhas que vão determinar o desenvolvimento sustentável de nossa sociedade. Hoje não temos uma solução nas arenas políticas”, argumentou.
O mundo também não conseguiu alcançar a meta dos Objetivos do Milênio de reduzir significativamente a taxa de perda de biodiversidade até 2010. A biodiversidade está em declínio, principalmente nos trópicos, com uma queda de 30% desde 1992. De acordo com o estudo, 20% das espécies globais de vertebrados estão ameaçadas. Os corais são os organismos vivos mais ameaçados de iminente extinção, sendo que desde a década de 1980, os recifes sofreram uma redução de 38% e as projeções para 2050 apontam para o seu fim.
O GEO-5 também divulgou que mais de 30% da superfície terrestre são usados para produção agrícola e alguns habitats naturais sofreram reduções de mais de 20% nos últimos trinta anos. Em maio, por meio da publicação Relatório Planeta Vivo 2012, o grupo ambientalista WWF disse que o mundo teria de ser 50% maior para ter terra e florestas suficientes para os níveis atuais de consumo e emissões de carbono.
“A erosão da biodiversidade é um processo que vem ocorrendo há séculos e estamos perdendo espécies diariamente a taxas alarmantes e as mudanças climáticas podem acelerar e muito essa perda”, avalia o secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência e Tecnologia do Brasil, Carlos Nobre, que integrou o painel de cientistas que elaboraram o relatório.
De acordo com a pesquisa global, o processo de "savanização" da Floresta Amazônica está em pleno acontecimento e não resistiria a um desmatamento de 40% da sua área (hoje, está taxa está em torno de 20%), ou então ao aumento da temperatura global em 4°C. "Se queremos ter todos os recursos que ela reserva a longo prazo, não é suficiente apenas políticas públicas dos países amazônicos, é preciso um esforço mundial para que se diminua os riscos do aquecimento global.
Em relação à água, o GEO-5 fala em 600 milhões de pessoas no mundo que não terão acesso ao recurso natural mais importante do planeta, até 2015, enquanto que 2,5 bilhões de habitantes do planeta não terão saneamento básico. A qualidade da água nos principais sistemas fluviais ao redor do mundo também não atende ao padrão estabelecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
O capítulo ‘América Latina e Caribe’ do relatório divulgado pelo Pnuma levanta questões sobre a gestão ambiental na região. Quase 80% da população dos 33 países da América Latina e Caribe vive em cidades, o que torna a região uma das mais urbanizadas do mundo. O aumento da população produz vários desafios. Embora a região seja rica em recursos hídricos, a expansão populacional, a urbanização e o mau gerenciamento tornam problemático o suprimento de água no futuro.
A região concentra cerca de 70% das espécies do mundo, mas registra grandes perdas de biodiversidade. As múltiplas ameaças abrangem desde a mudança climática, até pressão demográfica e práticas insustentáveis de manejo da terra. A conversão de ecossistemas naturais em sistemas produtivos é, atualmente, um dos maiores fatores de impacto sobre a biodiversidade. “Políticas que envolvam as comunidades locais são chave para encontrar soluções”, lembra Keisha Garcia, pesquisadora de Trinidad e Tobago e uma das coordenadoras do capítulo.
O uso da terra é um problema frequente na região. Em muitos lugares, a agricultura e a pecuária são produzidas de forma não sustentável, lembra o estudo. “Desde 1960, as terras agriculturáveis aumentaram 86% na América Latina, 46% na África e 36% na Ásia, coincidindo com um grande desmatamento nas três regiões no período”, diz o estudo. Na América do Sul, a terra usada para agricultura aumentou 18% entre 1970 e 2009 e a pecuária, 31%. Práticas de integração pecuária e lavoura usadas em propriedades do cerrado brasileiro aumentam a produtividade e são citadas como bons exemplos.
Clique aqui para ter acesso ao GEO-5 (em inglês – 80 MB). E acesse aqui a seção sobre o GEO-5 no portal do Pnud. Também, clique aqui e veja vídeo com mais informações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário