quinta-feira, 12 de julho de 2012


Tecnologia inédita no País varre todo o lixo do Rio para cima do tapete

Por Carolina Abrahao em maio 31, 2012 






Esqueça as montanhas de lixo escaladas pelos catadores que disputaram por décadas espaço com porcos e urubus em Jardim Gramacho, na Região Metropolitana no Rio. Com o encerramento das atividades do aterro em Duque de Caxias, marcado inicialmente para a próxima sexta-feira, mas adiado para domingo (3), todo o lixo produzido na capital fluminense passará a ter como destino final a Central de Tratamento de Resíduos (CTR), em Seropédica.

A 75 quilômetros do Rio, a CTR começou a funcionar em abril de 2011, e vem recebendo gradativamente os resíduos que iam para Gramacho e também Gericinó, aterro de Bangu, na Baixada Fluminense. A nova central já recebe 6,7 mil toneladas de lixo vindas do Rio diariamente.
Entre as principais tecnologias empregadas está a implantação da tripla camada de impermeabilização do solo feita com mantas de polietileno de alta densidade, conhecidas como “pead”.
Este imenso tapete cobre a parte inferior do terreno, que também recebe sensores ligados a um software que indica o ponto exato de um possível vazamento de chorume, o líquido tóxico proveniente da decomposição do lixo.
“É o primeiro centro de resíduos da América Latina. Igual a este só nos Estados Unidos, e mesmo assim lá eles usam esta tecnologia apenas em aterro de resíduos industriais. Nós implantamos aqui, em aterro de lixo urbano. É um cuidado redobrado que estamos tendo no Rio”, conta Priscila Zidan, superintendente de operações da CTR, administrada pela Ciclus, uma empresa privada.
Conforme explica a superintendente de operações, antes da CTR entrar em funcionamento, foi feita uma aplicação de um metro de camada de argila no solo primário da região. Em seguida, foi estendida uma primeira manta de polietileno, a “pead” de 1,5mm de espessura, junto com um emaranhado de pequenos sensores ligados a uma central. Após uma camada de areia drenante, outra camada de “pead”, de 2mm, e, por fim, mais 50cm de camada de argila compactada (o que impede que máquinas e tratores danifiquem o tapete de polietileno).
Só depois de todo este tratamento é que o lixo passa a ser jogado sobre o solo. Cada camada de resíduo tem, em média, 5 metros de altura. O limite máximo a ser alcançado com as camadas que virão nos próximos anos é de 100 metros de altura. A previsão é que se alcance esta meta em dez anos. A vida útil do atual espaço da CTR é de 17 anos, considerando as cerca de 7 mil toneladas de lixo que chegam ao local por dia.
O cheiro, entretanto, ainda é bastante desagradável. Já na entrada no portão principal, por onde chegam mais de 300 caminhões 24 horas por dia, é possível sentir o odor que vem da planície a alguns metros dali. O lixo vem de “estações de transferência” espalhadas por diversas localidades, destino dos caminhões coletores que circulam nos bairros da capital.
Tubos verticais são postos ao longo do terreno para coletar o biogás que, futuramente, produzirá energia. De acordo com Priscila Zidan, o biogás é composto por 50% de metano, sendo um dos principais poluentes gerados pela decomposição do lixo. “Em breve este gás será transformado em ativo econômico. O biogás pode ser levado a uma usina de geração de energia ou ser tratado e purificado para ganhar propriedades semelhantes às do gás natural, para comercialização. É o próximo passo”, diz a superintendente.
Ela explica que, para a geração de energia, o gás captado será levado para seis geradores com capacidade de absorver dois mil metros cúbicos do gás por hora. O aproveitamento bioenergético previsto terá capacidade de gerar 30 MW de energia quando o empreendimento estiver em pleno funcionamento, o que corresponde à iluminação de uma cidade de 200 mil habitantes.
Assim que foi anunciada a construção do CTR em Seropédica, moradores locais se revoltaram. Protestos foram feitos diversas vezes às margens da BR-116. Havia o temor de que ali fosse implantado um aterro parecido com o de Gramacho, às margens da Baía da Guanabara. Com quase 80 mil habitantes, Seropédica não queria virar cópia de Gramacho.

Edson Cardoso, analista de responsabilidade socioambiental da central de Seropédica, acredita que a tensão já se dissipou. “A geração de empregos nesta comunidade foi um divisor de águas. Acabou aquele clima inicial de insegurança, quando viram o tipo de normas ambientais que seguiríamos. A CTR ajudou, inclusive, a aquecer a economia local, do pequeno empresário”, relata. Agnelo Júnior, supervisor de operações, é um exemplo de aproveitamento de mão de obra local. “Além dos ganhos com o meio ambiente, o Rio de Janeiro passa a ser exemplo aos outros estados. Criaram emprego num lugar onde antes não havia muita coisa para se fazer”, conta.
O terreno de 1,2 milhão de metros quadrados tem 247 trabalhadores fixos, com carteira assinada. Nenhum deles tem contato direto com o lixo. Todo o trabalho é mecanizado. O que é bem diferente do que ocorria em Gramacho, onde 1400 catadores viviam, noite e dia, à procura de materiais que pudessem ser reaproveitáveis.
Três lagoas artificiais foram construídas para receber o chorume proveniente das camadas de lixo enterradas sob a grama. Tubulações subterrâneas levam o líquido até as lagoas, que têm área de 2 mil metros cúbicos. Caminhões fazem a retirada diária do chorume das lagoas.
Pretende-se, em breve, que ali mesmo seja feito o tratamento desse resíduo líquido. Está sendo construída uma Estação de Tratamento de Chorume (ETC), para transformar o líquido tóxico em água de reuso. A previsão é que dois mil metros cúbicos do líquido serão tratados por dia em Seropédica. Por enquanto, o chorume retirado das lagoas é levado para tratamento em Niterói, a quase cem quilômetros da cidade.
O município de Seropédica recebeu este nome como antigo local de fabricação de seda. Sua principal atividade econômica hoje é a extração de areia para uso na construção civil. Com o lixo vindo de vários cantos do estado, armazenado sobre tapetes de polietileno e escondido em verde grama, a cidade ganha novo status socioambiental.

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