Aquecimento acima de 1,5°C afetará 89% dos corais mundiais
Recifes de coral abrigam quase 25% das espécies marinhas e fornecem serviços indispensáveis para a humanidade, como proteção costeira, pesca e turismo. Não é novidade que este rico ecossistema está entre os mais vulneráveis ao aquecimento global, mas é provável que a ameça seja ainda maior do que se pensava.
O estudo “Limitar o aquecimento global a 2°C não deve salvar a maior parte dos corais” (Limiting global warming to 2 °C is unlikely to save most coral reefs), publicado em setembro no periódico Nature Climate Change, alerta que mesmo um aumento de 1,5°C na temperatura média mundial já será o suficiente para iniciar um processo de degradação em 89% dos corais.
“Nossas descobertas mostram que os recifes de corais podem deixar de ser um ecossistema predominante no litoral se as temperaturas passarem dos 2°C acima dos níveis do período pré-industrial”, afirmou a líder do estudo, Katja Frieler, do Instituto Postdam para a Pesquisa de Impactos Climáticos. “Mesmo se um ambicioso plano de mitigação climática fosse posto em prática, estimamos que cerca de 70% dos corais entrarão em um processo de degradação já em 2030”, explicou Frieler.
Este estudo, que contou ainda com a participação de pesquisadores britânicos, canadenses e australianos, é o primeiro a fazer uma avaliação global do “branqueamento” dos corais, um processo que indica que as formações estão morrendo por não conseguirem realizar sua simbiose com microalgas.
Os cientistas utilizaram 19 modelos climáticos diferentes para analisar os impactos em mais de 2.160 locais. No total, 32 mil simulações foram feitas, possibilitando resultados robustos que embasam as previsões contidas no estudo.
Pesquisas anteriores que estimaram a mortalidade dos corais geralmente abordavam apenas o aumento das temperaturas ou a taxa crescente de acidez dos oceanos, mas nunca os dois fenômenos conjuntamente de forma tão abrangente.
O estudo atual também considerou a possibilidade de adaptação dos corais dentro deste cenário de oceanos mais ácidos e quentes, mas nem assim os números se mostraram positivos.
“Os corais não possuem as características que os permitam se adaptar na velocidade necessária. Eles possuem longos ciclos de vida, chegando a mais de 100 anos, e são pouco diversos geneticamente, já que se reproduzem através da clonagem”, afirmou Ove Hoegh-Guldberg, biólogo marinho da Universidade de Queensland.
O grande alerta deste estudo é que estamos muito mais perto do que imaginamos de um mundo sem os recifes de corais da forma que conhecemos. “A janela de oportunidade para preservar a maioria dos corais, parte do patrimônio natural mundial, é pequena. Fecharemos esta janela se continuarmos, nesta próxima década, a emitir gases do efeito estufa da forma que estamos fazendo”, salientou Malte Meinshausen, do Instituto Postdam.
Durante o 12º Simpósio Internacional de Recifes de Corais, realizado em julho na Austrália, 2,6 mil cientistas já alertavam para o problema e pediram ações concretas para reduzir as emissões.
Segundo os especialistas, além da diminuição da biodiversidade, os danos aos corais acarretarão perdas em serviços ecossistêmicos no valor de até US$ 375 bilhões anuais.
De acordo com o relatório Global 500 Climate Change, 81% das 500 maiores companhias do mundo identificam atualmente os riscos físicos das mudanças climáticas. Sendo que 78% delas integraram as mudanças climáticas em suas estratégias de gestão.
Diante desses dados ainda existem pessoas que minimizam ou desacreditam o aquecimento global por interesses variados ou desconhecimento, mas confiamos que todos acordarão para a realidade antes que a própria realidade os faça acordar.
Um outro estudo, publicado no dia 1º de outubro na revista Proceedings of the National Academy of Sciences., afirma que em menos de dez anos, pouco, ou nada, restará da Grande Barreira de Corais da Austrália, de 2.300 quilômetros de comprimento. A menos que as autoridades australianas tomem medidas urgentes, em uma década permanecerão apenas 10% dos três mil arrecifes que formam a Barreira em águas do leste do país, afirma a pesquisa. Mais da metade dos corais do arrecife morreram nos últimos 27 anos.
“Estamos perdendo um ecossistema inteiro no sistema de arrecifes coralinos melhor manejado do mundo”, disse Katharina Fabricius, do Instituto Australiano de Ciência Marinha (Aims), coautora do estudo. “Esta é a primeira análise exaustiva de todos os dados destacados na Grande Barreira de Corais”, afirmou.
Houve advertências anteriores de que a Austrália estava perdendo uma das sete maravilhas naturais do mundo, atração turística que fatura US$ 6 bilhões anualmente. Este ano a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) anunciou que poderia rebaixar a prestigiosa designação do arrecife de Sítio do Patrimônio Mundial para Sítio do Patrimônio Mundial em Perigo”. Tempestades, brotos de estrelas do mar da variedade coroa de espinhos e esbranquiçamento dos corais são os responsáveis por dizimar o maior arrecife do mundo, afirma o estudo do Aims.
Poderosos furacões, como o Yasi em 2011, prejudicaram este bioma com suas intensas ondas. Entretanto, um impacto maior foi a chuva torrencial que caiu, causando grandes inundações que lavaram da terra grandes quantidades de fertilizantes, pesticidas, dejetos animais e sedimentos, que foram parar no arrecife. Esses resíduos líquidos afetam diretamente o arrecife, e também criam as condições perfeitas para o surgimento da estrela do mar coroa de espinhos, que se alimenta de coral. “As recentes inundações que quebraram a seca golpearam duramente o arrecife”, explicou Fabricius.
As tempestades e seus consequentes resíduos líquidos são diretamente responsáveis por 48% das mortes de corais. As estrelas marinhas coroa de espinhos respondem por 42%, enquanto a descoloração originada por águas muito quentes matam 10%, segundo o estudo intensivo de 214 dos três mil arrecifes da Grande Barreira de Corais. Apenas 3% dos arrecifes levantados resultaram intactos.
“Uma única estrela do mar coroa de espinhos pode pôr 60 milhões de ovos, e suas larvas se alimentam do plâncton que se desenvolve a partir dos altos níveis de nutrientes procedentes da terra”, contou Fabricius. Esses nutrientes se originam em boa parte em fontes agrícolas, principalmente na cana-de-açúcar e no pastoreio, destacou. A maior parte da Grande Barreira de Corais se encontra em águas do Estado de Queensland, que é a maior região agrícola da Austrália.
As estrelas do mar coroa de espinhos são uma espécie nativa cuja população explodiu nos últimos 20 anos. Não se conhece nenhuma maneira de controlá-las de modo efetivo. Mergulhadores as matam individualmente, mas é impossível seguir o ritmo delas. A única solução é um manejo de bacias especificamente dirigido a reduzir os níveis de nutrientes em águas costeiras, segundo Fabricius.
“Não podemos deter as tempestades, mas, talvez, possamos deter as estrelas do mar. Se conseguirmos, o arrecife terá maior oportunidade de adaptar-se aos desafios da elevação da temperatura do mar e da acidificação oceânica”, disse John Gunn, presidente do Aims. É provável que a investigação do Aims seja criticada na Austrália, embora se baseie no programa de monitoramento de arrecifes mais exaustivo do mundo. “Nossos pesquisadores passaram mais de 2.700 dias no mar e realizamos um investimento da ordem de US$ 50 milhões neste programa”, disse Peter Doherty, pesquisador do Aims.
O novo primeiro-ministro de Queensland, Campbell Newman, ignora as preocupações da Unesco sobre a Grande Barreira de Corais, e seu governo, incluído o ministro do Meio Ambiente, expressou dúvidas quanto aos seres humanos estarem influindo na mudança climática. O governo de Newman busca expandir agressivamente a mineração de carvão e a indústria exportadora, e aprovou a dragagem excessiva para a expansão de portos carboníferos já existentes e para a criação de novos.
Atualmente, cerca de 1.700 navios carregados de carvão navegam pela Grande Barreira de Corais ou em suas proximidades, e esse número subirá para dez mil em 2020, segundo estimativas. E já houve acidentes. Em 2010, o navio Shen Neng, carregado de carvão, pegou um atalho e encalhou no arrecife, deixando uma cicatriz de três quilômetros, um vazamento de petróleo e um rastro de toxinas derivadas de sua pintura anti-incrustante.
Gigantescos navios-tanque para gás natural liquefeito também chegam à Grande Barreira de Corais. E Queensland aprovou centenas de locais para perfuração, incluídas operações de fratura hidráulica para aproveitar os depósitos de gás de carvão (também conhecido como metano do leito de carvão).
Para o centro de Queensland foi proposta a criação processadoras de gás natural liquefeito com instalações portuárias. No porto de Gladstone já acontece uma dragagem extensiva, e o ministro do Meio Ambiente da Austrália aprovou lançar no oceano milhões de toneladas de material dragado dentro das fronteiras do Parque Marinho da Grande Barreira de Corais.
A Barreira poderá se recuperar se for adequadamente protegida, mas sua reabilitação consumirá de dez a 20 anos, disse Hugh Sweatman, coautor do estudo do Aims. Este ecossistema obter o espaço que precisa para respirar e se recuperar dos múltiplos ataques, além de se proteger de futuros impactos, está totalmente nas mãos dos australianos.
fonte: http://novo.maternatura.org.br
Recifes de coral abrigam quase 25% das espécies marinhas e fornecem serviços indispensáveis para a humanidade, como proteção costeira, pesca e turismo. Não é novidade que este rico ecossistema está entre os mais vulneráveis ao aquecimento global, mas é provável que a ameça seja ainda maior do que se pensava.
O estudo “Limitar o aquecimento global a 2°C não deve salvar a maior parte dos corais” (Limiting global warming to 2 °C is unlikely to save most coral reefs), publicado em setembro no periódico Nature Climate Change, alerta que mesmo um aumento de 1,5°C na temperatura média mundial já será o suficiente para iniciar um processo de degradação em 89% dos corais.
“Nossas descobertas mostram que os recifes de corais podem deixar de ser um ecossistema predominante no litoral se as temperaturas passarem dos 2°C acima dos níveis do período pré-industrial”, afirmou a líder do estudo, Katja Frieler, do Instituto Postdam para a Pesquisa de Impactos Climáticos. “Mesmo se um ambicioso plano de mitigação climática fosse posto em prática, estimamos que cerca de 70% dos corais entrarão em um processo de degradação já em 2030”, explicou Frieler.
Este estudo, que contou ainda com a participação de pesquisadores britânicos, canadenses e australianos, é o primeiro a fazer uma avaliação global do “branqueamento” dos corais, um processo que indica que as formações estão morrendo por não conseguirem realizar sua simbiose com microalgas.
Os cientistas utilizaram 19 modelos climáticos diferentes para analisar os impactos em mais de 2.160 locais. No total, 32 mil simulações foram feitas, possibilitando resultados robustos que embasam as previsões contidas no estudo.
Pesquisas anteriores que estimaram a mortalidade dos corais geralmente abordavam apenas o aumento das temperaturas ou a taxa crescente de acidez dos oceanos, mas nunca os dois fenômenos conjuntamente de forma tão abrangente.
O estudo atual também considerou a possibilidade de adaptação dos corais dentro deste cenário de oceanos mais ácidos e quentes, mas nem assim os números se mostraram positivos.
“Os corais não possuem as características que os permitam se adaptar na velocidade necessária. Eles possuem longos ciclos de vida, chegando a mais de 100 anos, e são pouco diversos geneticamente, já que se reproduzem através da clonagem”, afirmou Ove Hoegh-Guldberg, biólogo marinho da Universidade de Queensland.
O grande alerta deste estudo é que estamos muito mais perto do que imaginamos de um mundo sem os recifes de corais da forma que conhecemos. “A janela de oportunidade para preservar a maioria dos corais, parte do patrimônio natural mundial, é pequena. Fecharemos esta janela se continuarmos, nesta próxima década, a emitir gases do efeito estufa da forma que estamos fazendo”, salientou Malte Meinshausen, do Instituto Postdam.
Durante o 12º Simpósio Internacional de Recifes de Corais, realizado em julho na Austrália, 2,6 mil cientistas já alertavam para o problema e pediram ações concretas para reduzir as emissões.
Segundo os especialistas, além da diminuição da biodiversidade, os danos aos corais acarretarão perdas em serviços ecossistêmicos no valor de até US$ 375 bilhões anuais.
De acordo com o relatório Global 500 Climate Change, 81% das 500 maiores companhias do mundo identificam atualmente os riscos físicos das mudanças climáticas. Sendo que 78% delas integraram as mudanças climáticas em suas estratégias de gestão.
Diante desses dados ainda existem pessoas que minimizam ou desacreditam o aquecimento global por interesses variados ou desconhecimento, mas confiamos que todos acordarão para a realidade antes que a própria realidade os faça acordar.
Um outro estudo, publicado no dia 1º de outubro na revista Proceedings of the National Academy of Sciences., afirma que em menos de dez anos, pouco, ou nada, restará da Grande Barreira de Corais da Austrália, de 2.300 quilômetros de comprimento. A menos que as autoridades australianas tomem medidas urgentes, em uma década permanecerão apenas 10% dos três mil arrecifes que formam a Barreira em águas do leste do país, afirma a pesquisa. Mais da metade dos corais do arrecife morreram nos últimos 27 anos.
“Estamos perdendo um ecossistema inteiro no sistema de arrecifes coralinos melhor manejado do mundo”, disse Katharina Fabricius, do Instituto Australiano de Ciência Marinha (Aims), coautora do estudo. “Esta é a primeira análise exaustiva de todos os dados destacados na Grande Barreira de Corais”, afirmou.
Houve advertências anteriores de que a Austrália estava perdendo uma das sete maravilhas naturais do mundo, atração turística que fatura US$ 6 bilhões anualmente. Este ano a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) anunciou que poderia rebaixar a prestigiosa designação do arrecife de Sítio do Patrimônio Mundial para Sítio do Patrimônio Mundial em Perigo”. Tempestades, brotos de estrelas do mar da variedade coroa de espinhos e esbranquiçamento dos corais são os responsáveis por dizimar o maior arrecife do mundo, afirma o estudo do Aims.
Poderosos furacões, como o Yasi em 2011, prejudicaram este bioma com suas intensas ondas. Entretanto, um impacto maior foi a chuva torrencial que caiu, causando grandes inundações que lavaram da terra grandes quantidades de fertilizantes, pesticidas, dejetos animais e sedimentos, que foram parar no arrecife. Esses resíduos líquidos afetam diretamente o arrecife, e também criam as condições perfeitas para o surgimento da estrela do mar coroa de espinhos, que se alimenta de coral. “As recentes inundações que quebraram a seca golpearam duramente o arrecife”, explicou Fabricius.
As tempestades e seus consequentes resíduos líquidos são diretamente responsáveis por 48% das mortes de corais. As estrelas marinhas coroa de espinhos respondem por 42%, enquanto a descoloração originada por águas muito quentes matam 10%, segundo o estudo intensivo de 214 dos três mil arrecifes da Grande Barreira de Corais. Apenas 3% dos arrecifes levantados resultaram intactos.
“Uma única estrela do mar coroa de espinhos pode pôr 60 milhões de ovos, e suas larvas se alimentam do plâncton que se desenvolve a partir dos altos níveis de nutrientes procedentes da terra”, contou Fabricius. Esses nutrientes se originam em boa parte em fontes agrícolas, principalmente na cana-de-açúcar e no pastoreio, destacou. A maior parte da Grande Barreira de Corais se encontra em águas do Estado de Queensland, que é a maior região agrícola da Austrália.
As estrelas do mar coroa de espinhos são uma espécie nativa cuja população explodiu nos últimos 20 anos. Não se conhece nenhuma maneira de controlá-las de modo efetivo. Mergulhadores as matam individualmente, mas é impossível seguir o ritmo delas. A única solução é um manejo de bacias especificamente dirigido a reduzir os níveis de nutrientes em águas costeiras, segundo Fabricius.
“Não podemos deter as tempestades, mas, talvez, possamos deter as estrelas do mar. Se conseguirmos, o arrecife terá maior oportunidade de adaptar-se aos desafios da elevação da temperatura do mar e da acidificação oceânica”, disse John Gunn, presidente do Aims. É provável que a investigação do Aims seja criticada na Austrália, embora se baseie no programa de monitoramento de arrecifes mais exaustivo do mundo. “Nossos pesquisadores passaram mais de 2.700 dias no mar e realizamos um investimento da ordem de US$ 50 milhões neste programa”, disse Peter Doherty, pesquisador do Aims.
O novo primeiro-ministro de Queensland, Campbell Newman, ignora as preocupações da Unesco sobre a Grande Barreira de Corais, e seu governo, incluído o ministro do Meio Ambiente, expressou dúvidas quanto aos seres humanos estarem influindo na mudança climática. O governo de Newman busca expandir agressivamente a mineração de carvão e a indústria exportadora, e aprovou a dragagem excessiva para a expansão de portos carboníferos já existentes e para a criação de novos.
Atualmente, cerca de 1.700 navios carregados de carvão navegam pela Grande Barreira de Corais ou em suas proximidades, e esse número subirá para dez mil em 2020, segundo estimativas. E já houve acidentes. Em 2010, o navio Shen Neng, carregado de carvão, pegou um atalho e encalhou no arrecife, deixando uma cicatriz de três quilômetros, um vazamento de petróleo e um rastro de toxinas derivadas de sua pintura anti-incrustante.
Gigantescos navios-tanque para gás natural liquefeito também chegam à Grande Barreira de Corais. E Queensland aprovou centenas de locais para perfuração, incluídas operações de fratura hidráulica para aproveitar os depósitos de gás de carvão (também conhecido como metano do leito de carvão).
Para o centro de Queensland foi proposta a criação processadoras de gás natural liquefeito com instalações portuárias. No porto de Gladstone já acontece uma dragagem extensiva, e o ministro do Meio Ambiente da Austrália aprovou lançar no oceano milhões de toneladas de material dragado dentro das fronteiras do Parque Marinho da Grande Barreira de Corais.
A Barreira poderá se recuperar se for adequadamente protegida, mas sua reabilitação consumirá de dez a 20 anos, disse Hugh Sweatman, coautor do estudo do Aims. Este ecossistema obter o espaço que precisa para respirar e se recuperar dos múltiplos ataques, além de se proteger de futuros impactos, está totalmente nas mãos dos australianos.
fonte: http://novo.maternatura.org.br
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