O fim do crescimento econômico, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
O mundo se acostumou com dois séculos de crescimento econômico. A despeito dos ciclos recessivos, os países ficaram viciados no crescimento e no aumento continuado do Produto Interno Bruto (PIB). Mas o que pode acontecer se a máquina de produção e consumo emperrar? E se o crescimento econômico acabar?
O fim do crescimento econômico é o tema de dois livros recentes. O primeiro, The End of Growth: Adapting to Our New Economic Reality de Richard Heinberg apresenta uma defesa clara em favor de um desenvolvimento mais qualitativo do que um crescimento quantitativo. Ele argumenta que o crescimento das últimas décadas tem sido muito dependente de dois fatores: 1) endividamento cada vez maior e 2) combustíveis fósseis abundantes e baratos.
Porém, o mundo está esgotando rapidamente ambas as alternativas e é pouco provável que consiga substitutos no futuro imediato. A recessão de 2008, da qual ainda o mundo não se recuperou totalmente, parece não ser um fenômeno temporário, mas sim o fim do crescimento como o conhecemos. Para Heinberg a possibilidade de crescimento econômico deverá ser impedida por: a) o esgotamento de recursos importantes, incluindo combustíveis fósseis e minérios; b) a proliferação de impactos ambientais causados pela extração e uso de recursos (incluindo a queima dos combustíveis fósseis) – levando a custos crescentes causados por esses próprios impactos e pelos esforços feitos para evitá-los e anulá-los; e c) distúrbios financeiros causados pela incapacidade de nossos atuais sistemas monetários, bancários e de investimentos de se ajustarem à escassez de recursos e aos crescentes custos ambientais – e por sua incapacidade (no contexto de uma economia em recessão) de fazer frente às enormes dívidas públicas e privadas que foram geradas nas últimas décadas.
Portanto, o crescimento econômico nos anos vindouros deverá ser limitado pelo esgotamento dos recursos naturais críticos, do aumento dos custos de extração do petróleo (e seus associados impactos ambientais negativos) e aumento das dívidas. Confiar na tecnologia e na inovação não deve resolver o problema, pois o cresceimento desenfreado não pode derrubar as leis da física e garantir o crescimento perpétuo. Desta forma, Heinberg considera que estamos chegando à fase do “fim do crescimento”.
O segundo livro, The End of Growth, de Jeff Rubin não é mais um título alarmante, mas sim um alerta sobre os rumos do modelo econômico atual. Rubin era um executivo do sistema financeiro que depois da crise internacional de 2008 se voltou para o questionamento dos rumos da sociedade industrial e sua dependência do petróleo. O Pico de Hubbert (pico do petróleo) vai significar um grande aumento de custos que vai exigir um grande ajuste da economia internacional.
Além disto o envelhecimento populacional também vai representar aumento de custos devido aos maiores gastos com saúde da população idosa e aumento da razão de dependência. Estes dois fatores vão aumentar a pressão sobre os problemas fiscais e reduzir a margem de investimentos produtivos e em infra-estrutura.
Por outro lado, mesmo considerando o fim do crescimento do PIB, Rubin é otimista em relação ao decrescimento da população e à difusão tecnológica – Internet, informação digital, impressão 3-D etc – que oferecem oportunidades realistas para impulsionar a desmaterialização da economia e a redução da emissão de carbono. O autor considera que as mudanças são inevitáveis e que o crescimento qualitativo deve substituir o crescimento quantitativo.
De maneira sintética, podemos dizer que existem cinco forças que devem influir para apressar o fim do crescimento econômico mundial, tal como tem sido o padrão dos últimos 200 anos:
- O pico do petróleo e o fim da energia abundante e barata;
- A perda da biodiversidade, a escassez de água potável e a diminuição de outros recusos naturais essenciais;
- O aquecimento global e as mudanças climáticas extremas que vão encarecer a disponibilidade de alimentos e aumentar o custo decorrentes dos desastres ambientais;
- A estagnação dos ganhos da esperança de vida, paralelamente ao processo de envelhecimento da população que vai colocar em xeque os sistemas previdenciários e de saúde e aumentar a razão de dependência demográfica (o fim do bônus demográfico nos países desenvolvidos);
- O alto endividamento público e das famílias, que está inviabilizando a continuidade do consumismo desregrado e vai dificultar os investimentos na transformação do modelo de produção e consumo que tem aumentado a pegada ecológica e diminuido a produtividade e a biocapacidade ambiental.
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
fonte: ecodebate.com.br
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