domingo, 21 de outubro de 2012


Combinar espécies de mandioca daria lugar a melhores cultivos

Mandioca. Foto: Embrapa
Mandioca. Foto: Embrapa

A combinação de tecidos de diferentes espécies de mandioca pode conduzir a um novo método para melhorar esse alimento, presente na dieta básica de 800 milhões de pessoas ao redor do mundo, segundo pesquisadores brasileiros.

Em artigo publicado na revista HortScience, os cientistas mostram que a hibridação entre uma espécie silvestre e outra cultivada pode resultar em uma nova variedade que combinaria as melhores características das duas espécies parentais e aumentaria sua produtividade até cinco vezes.
Os pesquisadores combinaram tecidos da Manihot fortalezensis – uma variedade silvestre, resistente à seca e bem adaptada a pragas como a da broca da mandioca em seu ambiente nativo no Brasil – com a variedade cultivada, M.esculenta UnB 201, que é mais nutritiva, mas de baixo rendimento e suscetível à seca e à broca.
A variedade resultante desta hibridação, conhecida como quimera, teve entre sete e oito raízes comestíveis de 10 a 12 quilogramas, em comparação com a M. esculenta UnB 201 – que produzia somente entre quatro e cinco raízes comestíveis de dois a três quilos no total – e com a M. fortalezensis, que não produz raízes comestíveis.
As quimeras contam com profundas raízes fibrosas, como seu parente silvestre, o que, segundo os pesquisadores, indica que podem capturar água em grandes profundidades e que podem ser resistentes a secas. As plantas também demonstraram “um crescimento vigoroso extremo comparado com seus parentes”, e crescem muito mais do que elas.
Contudo, os pesquisadores produziram somente 18 plantas e as estudaram até completar um ano de idade. Além disso, as quimeras exalavam um cheiro similar a um ácido conhecido como cianuro de hidrogênio (HCN), que pode ser tóxico quando a mandioca não se processa devidamente.
Nagib Nassar, principal autor do estudo e pesquisador da Universidade de Brasília, disse que a nova variedade usa o enxerto, uma ferramenta de botânica muito simples (a combinação do tecido de duas plantas distintas), e, portanto, não oferece risco à saúde humana ou ao meio ambiente, como pode ser o caso das variedades modificadas geneticamente.
“Por pertencerem ao mesmo gênero (Manihot), os tecidos de ambas as espécies podem crescer e viver juntos em um só organismo”, disse ao SciDev.Net. Isso significa que os tecidos derivados das espécies parentais podem “coexistir harmoniosamente” em uma mesma planta sem a utilização de ferramentas de melhoramento genético, completou.
Maria Teresa Bertoldo Pacheco, pesquisadora do Instituto de Tecnologia Alimentícia de São Paulo, disse que os resultados do estudo podem conduzir a um cultivo de mandioca mais robusto e resistente. Mas, disse ao SciDev.Net, “para assegurar que essa variedade seja comestível é essencial realizar estudos adicionais focados nas composições químicas, nutricionais e toxicológicas”.
Mário Takahashi, pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná, questionou o aspecto custo-benefício da técnica utilizada no estudo e questionou se é possível que algum dia chegue aos agricultores. “Muitos estudos já foram realizados com o cultivo da mandioca, mas quase nenhum deles chegou aos agricultores”, disse ao SciDev.Net.
Contudo, Nassar disse que essa variedade de mandioca pode ser facilmente cultivada em grande escala e distribuída para os agricultores, e que o objetivo principal do estudo inicial era apresentar a técnica para a comunidade científica, para que pudesse ser reproduzida e explorada.
Tradução: Redação Jornal da Ciência
Matéria socializada pelo Jornal da Ciência / SBPC, JC e-mail 4606 e publicada peloEcoDebate, 19/10/2012
fonte: ecodebate.com.br

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