quinta-feira, 27 de setembro de 2012


Consequências climáticas e econômicas do degelo do Ártico preocupam


Nas últimas semanas, diversos especialistas vêm alertando para o crítico degelo no Ártico e a possibilidade de serem alcançados recordes no derretimento. Pois no dia 16 de setembro, imagens de satélite do Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo (NSIDC) dos Estados Unidos mostraram que a capa de gelo ficou com 3,42 milhões de km2, a menor extensão desde o início das medições, em 1979.

“Entre 1979 e 2012, temos um declínio de 13% por década no gelo marinho, acelerando dos 6% entre 1979 e 2000. Se a tendência continuar, não teremos gelo marítimo até o final dessa década”, afirmou Wieslaw Maslowski, oceanógrafo da Escola de Pós-Graduação Naval norte-americana.
“As coisas estão acontecendo muito mais rapidamente do que qualquer modelo científico previu”, continuou Morten Rasch, que dirige o programa de Monitoramento do Ecossistema da Groenlândia na Dinamarca.
“Estamos agora em território inexplorado. Embora saibamos há muito tempo que o planeta esquenta, que as mudanças seriam vistas primeira e mais pronunciadamente no Ártico, poucos de nós estavam preparados para o quão rapidamente as mudanças realmente ocorreriam”, concordou Mark Serreze, direto do Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo dos EUA.
E além de a capa de gelo estar menor, ela também está mais fina, o que a torna ainda mais frágil e propensa a continuar derretendo mesmo em épocas menos quentes, ao contrário da grossa camada encontrada anteriormente.
“O declínio no final de temporada é um indicativo de quão fino a cobertura de gelo está. O gelo tem que estar bastante fino para continuar derretendo à medida que o sol brilha com menos intensidade e o outono se aproxima”, comentou Walt Meier, do NSIDC.
De acordo com grande parte dos cientistas especializados, a aceleração do derretimento do gelo do Ártico está ligada ao grande aumento de gases de efeito estufa (GEEs) na atmosfera emitidos pela queima de combustíveis fósseis das atividades humanas.
Para Peter Schlosser, especialista do Instituto da Terra da Universidade de Colúmbia, é difícil prever exatamente qual será a consequência desse derretimento, já que o Ártico tende a responder mais rápida e severamente do que outras partes da Terra.
No entanto, alguns impactos desse degelo já são visíveis, como o aumento de temperatura na região. “Os efeitos das mudanças globais induzidas pelo ser humano são cada vez mais visíveis e impactos maiores são esperados no futuro”, declarou Schlosser.
Além disso, as consequências não devem ficar limitadas ao Ártico, já que a região funciona como uma espécie de ar-condicionado do planeta, e influencia em correntes de vento e marítimas de diversos locais, principalmente nos países mais próximos, como o Canadá e os Estados Unidos.
“O que acontece no Ártico não fica no Ártico. Isso tem um impacto real nos americanos, onde eles vivem e trabalham”, disse Dan Lashof, cientista climático do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais (NRDC).
O degelo também pode levar à migração e extinção de diversas espécies de animais e plantas, prejudicando os povos locais que dependem delas para sobreviver.
“Meu povo depende desse oceano e estamos vendo mudanças dramáticas. É assustador pensar na nossa oferta de alimentos”, lamentou Caroline Cannon, líder da comunidade Inupiat do Alasca.

Batalha por recursos

Mas há quem veja nesse derretimento uma oportunidade. Isso porque com o degelo, muitas fontes de combustíveis fósseis, como carvão, gás natural e petróleo, se tornaram expostas ou mais fáceis de serem acessadas, fazendo com que a indústria energética tenha voltado os olhos para a região.
Com o derretimento do gelo, surgiram também novas rotas marítimas disponíveis, que poderão ajudar a baratear, diversificar e acelerar o ritmo do transporte marítimo.
Além dos países que detêm uma porção do Ártico, como os Estados Unidos, o Canadá, a Rússia e a Dinamarca, outras nações estão interessadas em lucrar com esse derretimento.
Uma delas é a China, que, embora não possua nenhum território no Ártico, alega que o local é “riqueza de toda a humanidade”, e deve poder ser explorado por todos.
“O Ártico cresceu rapidamente na agenda de política externa da China nos últimos dois anos”, indicou Linda Jakobson, diretora de programa do Leste da Ásia do Instituto Lowy para Política Internacional, na Austrália.
A disputa está se acirrando de tal forma que os países que não possuem territórios no local buscam agora status de observadores permanentes no Conselho do Ártico, o que os permitiria apresentar as perspectivas sobre a região, embora não possam votar.
“Mudamos de um fórum para um órgão tomador de decisões”, declarou Gustaf Lind, embaixador do Ártico da Suécia e atual presidente do conselho.
Essa busca pelos recursos árticos está inclusive mudando a relação dos países com as comunidades árticas locais, já que elas são detentoras de grande parte das terras e recursos da região.
“Somos tratados muito diferentemente do que há alguns anos. Estamos cientes de que isso é porque temos agora algo a oferecer, não porque eles descobriram de repente que os Inuits são boas pessoas”, sugeriu Jens B. Frederiksen, vice-premier da Groenlândia.
Os países com território ártico estão reticentes sobre a entrada da China no local, pois alegam que o governo de Pequim pode sobre-explorar a área. No entanto, os chineses afirmam que suas intenções são mais “generosas”.
“As atividades da China são para propósitos de investigação ambiental e investimento e não tem nada a ver com pilhagem de recursos e controle estratégico”, escreveu a agência de notícias chinesa Xinhua.
Para Michael Byers, professor de políticas e direito da Universidade da Colúmbia Britânica, é improvável que os chineses ultrapassem seus direitos, ainda mais em uma região povoada por membros da OTAN.
“Apesar das preocupações que tenho sobre a política externa da China em outras partes do mundo, no Ártico eles estão se comportando responsavelmente. Eles só querem ganhar dinheiro”, lembrou Byers.
Mesmo assim, a exploração da região não é vista com bons olhos por ambientalistas e cientistas climáticos, pois pode levar a uma emissão ainda maior de GEEs com o incentivo à extração e consumo de combustíveis fósseis, o que prejudicaria ainda mais a região.
“Por que nossos governos não tomam atitudes? Porque eles foram capturados pelos mesmos interesses da indústria energética. Em vez de lidar com as raízes das causas das mudanças climáticas, a resposta atual de nossos líderes é assistir ao derretimento do gelo e então dividir os ganhos disso”, concluiu Kumi Naidoo, diretor executivo do Greenpeace Internacional.
FONTE: www.institutocarbonobrasil.org.br

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