sábado, 15 de setembro de 2012


Soldadinho-do-araripe é destaque em publicação inglesa sobre espécies ameaçadas de extinção

O soldadinho-doararipe habita as nascentes das encostas da Chapada do Araripe, no sul do Ceará Foto: Cid Barbosa

Cinco espécies brasileiras de animais – entre elas o nosso soldadinho-do-araripe (Antilophia bokermanni) – estão entre as cem destacadas em publicação lançada ontem (11 de setembro), pela Sociedade Zoológica de Londres (ZSL), no Congresso Mundial de Conservação, na Coreia do Sul.
As espécies brasileiras citadas no livro, que pode ser traduzido como “Inestimável ou Sem Valor?”, incluem também o macaco muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus), duas borboletas (Actinote zikani e Parides burchellanu) e uma espécie de preá (Cavia intermedi).
A lista abrange 48 países diferentes. “Todas as espécies listadas são únicas e insubstituíveis. Se elas desaparecerem, não haverá dinheiro que as traga de volta”, disse Ellen Butcher, da ZSL, co-autora do relatório, no evento.
“Mas, se tomarmos ações imediatas, podemos dar a elas chances de lutar pela sobrevivência. Mas isso requer que a sociedade apoie a posição moral e ética de que todas as espécies têm direito de existir”, acrescentou.
O soldadinho-do-araripe vive apenas na Chapada do Araripe, no Ceará. A população é calculada em 779 indivíduos, que, devido aos hábitos reprodutivos restritos às nascentes, só existem ali e são muito vulneráveis. O relatório destaca que a principal ameaça é a “destruição do habitat, devido à expansão da agricultura, unidades de recreação e parques aquáticos”
O biólogo cearense Weber Andrade de Girão e Silva é co-responsável pela descoberta do soldadinho-do-araripe. Ele era ainda estudante de Biologia quando, em 1996, participou da descoberta e esse episódio influenciou a sua trajetória profissional e pessoal. Há 15 anos ele vem desenvolvendo o Projeto Soldadinho-do-Araripe na área de incidência da ave, e, por isso, acabou se mudando para a região, no sul do Ceará.
Os resultados positivos do projeto, em conservação de habitat e da espécie, dependem do envolvimento de proprietários das áreas de ocorrência, bem como da comunidade local. Para isso o pássaro foi transformado na espécie bandeira da região, influenciando no fortalecimento das Unidades de Conservação (UCs) públicas e incentivo à criação de UCs particulares e outras modalidades de conservação de áreas naturais na região.
Emblemáticas
Em entrevista exclusiva, ao blog Gestão Ambiental, Weber destaca que o livro selecionou cem espécies emblemáticas no Planeta que constam na lista das criticamente em risco de extinção para alertar sobre a importância da preservação da biodiversidade.
“É importante destacar que é impossível dizer quem são as cem mais ameaçadas porque há várias situações. Há, por exemplo, populações de mil indivíduos que estão em declínio e outras de 500 que estão e restabelecendo”, explica.
Weber esclarece que a publicação não é um artigo científico, mas um belo livro que chama a atenção para a necessidade da conservação e, neste sentido, destaca o texto da abertura, do duque de Cambridge, His Royal Highness:”Este livro não se limita a dizer-nos quais espécies estão mais ameaçadas, ele nos mostra como podemos salvá-las. Desafia-nos a assumirmos o compromisso de assegurar o nosso patrimônio natural de valor inestimável para as futuras gerações”.
Sobre o soldadinho-do-araripe, Weber acredita que o fato de  já ser considerado um ícone pela BirdLife International, entidade internacional voltada à preservação das aves, deve ter ajudado na seleção. Disse, ainda, que a notícia foi recebida com grande alegria por todos que trabalham pela preservação da espécie.
Outras espécies
O muriqui-do-norte, maior macaco das Américas, só encontrado na Mata Atlântica, no Sudeste do País. A população é calculada em menos de mil macacos, principalmente em algumas dezenas de reservas privadas e do governo.
“O desmatamento em larga escala e um passado de corte seletivo de madeira reduziu o ecossistema único do muriqui-do-norte para uma fração de sua extensão original, e as pressões de caça também afetaram as populações locais”, destaca o relatório.
A publicação cita também o preá Cavia intermedia, que existe apenas nas Ilhas Moleques do Sul, em Santa Catarina, tem população de apenas 40 a 60 indivíduos, e que sugere que haja mais fiscalização no parque estadual onde estão as ilhas, além de regulamentação do acesso à área.
As borboletas Actinote zikani, que vive na Serra do Mar, perto de São Paulo, e a Parides burchellanus, com uma população de menos de cem indivíduos no Cerrado brasileiro, completam a lista.
Incentivo
Em maio passado, projeto de Weber Girão foi selecionado como representante do bioma Caatinga no Programa Empreendedores da Conservação (E-CONS). Iniciativa da ONG curitibana Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) em parceria com o HSBC, com o objetivo de reconhecer e estimular o trabalho de pessoas comprometidas com a conservação da biodiversidade em diferentes biomas brasileiros.
A perda da biodiversidade é considerada preocupante no Planeta, pois, com a redução de áreas naturais, perdem-se também os serviços ambientais prestados por essas áreas. Alguns exemplos desses serviços são o controle de pragas e polinização para a agricultura, controle de erosão de solos, recarga e manutenção de recursos hídricos, essências de medicamentos e fontes de inspiração para novas tecnologias. O trabalho dos E-CONS contribui diretamente para a manutenção desses e outros serviços ambientais, que geram inúmeros benefícios à sociedade.
Acesse aqui a publicação  “Priceless or Worthless?”

fonte: blogs.diariodonordeste.com.br/gestaoambiental/

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