terça-feira, 4 de setembro de 2012

A humanidade já esgotou seu ‘orçamento’ ecológico para 2012


Desde o dia 22 de agosto, a Humanidade está em déficit. Nos primeiros oito meses do ano, os seres humanos esgotaram a totalidade dos recursos que a Terra é capaz de produzir ao longo do ano. Em 22 de agosto, se alcançou o que a ONG Global Footprint Network (GFN) chama de Global Overshoot Day, isto é, “o dia da ultrapassagem da Terra" (dia do excesso). Desde 2003, esta ONG mede todos os anos a pegada ecológica do planeta, o acúmulo dos recursos e a forma como os consumimos. 

A capacidade de regeneração anual do planeta é limitada. Diante disso, a capacidade de consumo do ser humano parece ilimitada e o planeta não é suficiente para cumprir com as exigências que a Humanidade lhe impõe. Desde a década de 1970, os seres humanos vivem muito acima dos seus meios. O relatório da GFN mostra um aceleramento constante do esgotamento dos recursos. Em 2012, o Global Overshoot Day foi atingido 36 dias antes que em 2011. A curva para baixo é constante. Os cálculos desta ONG se baseiam em dados científicos que se articulam em torno de uma medida, o hag, o hectare global mediante o qual se compara a biocapacidade do planeta com o consumo de cada país. O resultado dos estudos é catastrófico: para manter o nível de vida atual falta meio planeta suplementar.

Os quatro meses que restam serão vividos então a crédito. Os recursos que serão utilizados daqui até o final do ano correspondem a estoques que não se renovam. “A hora do balanço chegou”, disse a Global Footprint Network em seu relatório. Este ano, a ONG ampliou os seus cálculos para os últimos 50 anos. Entre os anos 1960 e agora, os recursos planetários foram divididos em dois, ao passo que as necessidades cresceram para níveis extraordinários, a ponto de que se consome 50% do que a Terra é capaz de produzir.

A pressão que os 7 bilhões de seres humanos exercem tornou-se desproporcional. Os principais responsáveis pelo déficit são as emissões de dióxido de carbono e a exploração dos recursos naturais. “A mudança climática como consequência dos gases de efeito estufa que se emitem mais rápido do que podem ser absorvidos por florestas e oceanos é a consequência mais tangível e urgente”, anota a ONG. Mas não é tudo. A isso se agregam “a diminuição das florestas, a perda das espécies, o colapso da pesca, o aumento dos preços dos produtos básicos e os distúrbios civis”. O quadro acaba com uma conclusão: “As crises ambientais e financeiras que estamos experimentando são os sintomas de uma iminente catástrofe. A Humanidade está simplesmente usando mais do que o planeta pode prover”.

Nem todos os países têm a mesma responsabilidade no desastre. Segundo a Global Footprint Network, os Estados Unidos e o Brasil são os primeiros a atingirem o dia do excesso, 26 de março e 6 de julho, respectivamente. Se todo o planeta necessitasse dos recursos que estes dois países consomem faltariam respectivamente 4,16 e 1,9 planetas para satisfazer a demanda. A exigência aumentaria para mais de seis planetas se vivêssemos como o Qatar. Ao contrário, se todos os seres humanos vivessem como a Índia, bastaria 49% dos recursos naturais do planeta.

Em 2008, a pegada ecológica da Humanidade correspondia a 2,7 hag por habitante para uma capacidade real de 1,8 hag. Dos 149 países estudados, 60 são responsáveis pela dívida ecológica. O Ocidente tem uma influência decisiva na deterioração do planeta. Em um país como a França as necessidades ultrapassam 70% dos recursos presentes. A Argentina tem uma biocapacidade de 8 hag e sua pegada ecológica chega a 2,8 hag. Nos anos 1960, a Argentina contava com quase 14 hag e com uma pegada ecológica de 4. O Relatório 2012 revela que entre 1970 e 2008, a biodiversidade planetária caiu 30%. Segundo a GFN, cada ano desaparecem 0,01% das espécies. O fundador da ONG, Mathis Wackernagel, recorda que “o déficit ecológico aumenta de maneira exponencial nos últimos 50 anos”.

Por paradoxal que possa parecer, há uma solução que não é um milagre, mas o próprio desastre. O responsável da ONG ressalta que, “no longo prazo, a recuperação só poderá ter sucesso se vier acompanhada de reduções sistemáticas da nossa demanda de recursos e serviços aos ecossistemas”. Caso isso não ocorrer, o desastre se encarregará de fazê-lo por nós. Mathis Wackernagel estima que a tendência para o megaconsumo dos recursos “mudará um dia de direção. Seja pelo impulso de decisões, seja pelo desastre”.

A questão do uso excessivo dos recursos tem, além disso, impactos econômicos muito fortes. A Global Footprint Network recorda que “uma vez que o déficit de recursos aumenta e os preços desses recursos são altos, o custo para os países será insuportável”. Boa parte da Humanidade vive de crédito financeiro. Entramos em outra etapa: o crédito ecológico.

Clique aqui para mais informações sobre o tema, em inglês.

fonte: http://novo.maternatura.org.br

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