domingo, 7 de julho de 2013

Aves famintas devido às mudanças no ambiente preocupam pesquisadores


Trinta anos de monitoramento e pesquisas com aves marinhas no estado do Maine, Estados Unidos, têm mostrado um panorama extremamente crítico para esses animais, que também passam por terras brasileiras em suas migrações anuais.
Espécies estão sendo dizimadas pelas mudanças ambientais, especialmente pelo aquecimento das águas, reportou oServiço de Vida Selvagem e Peixes dos Estados Unidos. 

Pesquisadores do Refúgio Nacional da Vida Selvagem das Ilhas Costeiras do Maine vêm monitorando mais de 50 ilhas que abrigam aves marinhas após estas percorrerem longas distâncias.
A migração anual, por exemplo, dos mais de 36 mil trinta-réis-árticos (Sterna paradisaea) da Antártica, passando pelo Brasil (Veja a figura ao lado/Fonte: Wikiaves) para os locais de reprodução no Golfo do Maine é a mais longa do mundo. Porém, ao longo dos últimos cinco anos, o número dessas aves caiu 42% de 4.224 casais em 2008 para 2.467 casais em 2012.
“Menos casais de trinta-réis-árticos estão reproduzindo no Golfo do Maine, e aqueles que estão produzem uma prole menor. Eles estão se saindo muito mal”, comentou a bióloga Linda Welch.
Declínios similares na Holanda e Islândia indicam que mais de um fator local é culpado. Alguns pesquisadores suspeitam que as mudanças climáticas estão interrompendo a cadeia alimentar nos locais de invernagem das aves.
“Então é possível que elas não encontrem comida o suficiente para reforçar seus estoques corporais e restaurar a energia necessária para voar da Antártica de volta para a costa do Maine em boa forma o suficiente para iniciar a reprodução novamente”, comentou Welch.
Outra ave que passa pelo Brasil (Veja a imagem ao lado/Fonte: Wikiaves), o bobo-grande-de-sobre-branco (Puffinus gravis), também está presente no arquipélago do Maine, onde passa o verão. Anilhas monitoradas por satélite mostram que a ave forrageia por todo o golfo, o que preocupa Welch devido aos projetos de fazendas eólicas em alto mar.
Famintos
Equipamentos de rastreamento das aves estão ajudando os pesquisadores a revelar um mistério: por que algumas das aves marinhas não conseguem encontrar peixes o suficiente para alimentar a sua prole.
O trinta-réis-ártico, por exemplo, se alimenta de arenques e outros peixes pequenos de superfície, ao contrário dos bobos, que mergulham em busca de comida. Assim, os trista-réis são mais vulneráveis a declínios nos estoques pesqueiros.
Os pesquisadores perceberam que várias colônias em ilhas do Maine estão apresentando problemas de alimentação dos filhotes.
“Os adultos estão desesperados”, comentou Welch. “Eles tentam trazer outros tipos de peixe ou invertebrados para os filhotes comerem. Às vezes o peixe é muito grande para engolir inteiro. Então os filhotes morrem de fome com as carcaças de peixes na sua frente. É realmente triste”.
Apesar de o problema parecer pior para os trinta-réis, os bobos e as tordas-mergulheiras também são afetadas. Na maior parte das colônias, os bobos ainda conseguem produzir filhotes, porém menores e mais leves.
“Então, não sabemos, essas aves vão sobreviver quando deixarem as colônias? Conseguirão retornar quando tiverem cinco ou seis anos para reproduzir?”, questiona Welch.
Os níveis de produtividade marinha, correntes e temperatura da água influenciam a distribuição de peixes. O aumento do degelo no Ártico também pode afetar a química das águas e a localização dos peixes. “Não é um problema simples”, alerta a bióloga.
Novas tecnologias, como nano-rastreadores, estão facilitando as pesquisas ao enviar dados automatizados instantaneamente em vez de exigir a recaptura dos animais, como no caso dos geolocalizadores.
Porém, a interpretação dos padrões de movimentação, mudanças populacionais e taxas de reprodução ainda depende muito dos dados visuais coletados nos últimos 30 anos.
“Ter um esforço de monitoramento em longo prazo tem sido essencial para a nossa compreensão das mudanças na produtividade e dieta das aves marinhas”, disse Welch. 
Imagens: Cidades onde os observadores do WikiAves registraram ocorrências das espécies. A concentração de pontos em uma região não indica, necessariamente, concentração de aves, pois está relacionado também à concentração de observadores, principalmente nos grandes centros urbanos.


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