quarta-feira, 3 de julho de 2013

Expansão monetária, o remédio pode ser pior do que a doença

ca2 300x250 Expansão monetária, o remédio pode ser pior do que a doença
Rio de Janeiro, Brasil, julho/2013 – Os líderes mundiais demoraram algum tempo para se darem conta de que a crise financeira, iniciada após o colapso do setor das hipotecas de alto risco nos Estados Unidos, em 2007, não esgotaria seus efeitos em uma simples recessão.
Durante a maior parte de 2007 e 2008, as autoridades governamentais, especialmente nos Estados Unidos, argumentaram, corretamente, que os créditos hipotecários de alto risco eram um segmento relativamente pequeno do sistema financeiro norte-americano, concluindo, erroneamente, que a crise poderia ser facilmente contida mediante os recursos convencionais à disposição do Departamento do Tesouro e do Federal Reserve.

Entretanto, a crise se estendeu a outros setores dos mercados financeiros norte-americanos e, em setembro de 2008, com a quebra do Lehman Brothers, se propagou para grande parte do mundo.
Sucessivamente, a provisão de créditos se contraiu e a crise financeira se transformou em uma crise econômica, com uma produção minguante e crescente desemprego.
A comprovação de que a crise era mais profunda do que o previsto inicialmente fez com que os governos reagissem mediante a adoção de políticas macroeconômicas antirrecessivas. Foram aplicadas políticas fiscais e expansões monetárias, de uma forma ou outra, não só nos Estados Unidos e na Europa ocidental, mas também em muitos países em desenvolvimento, entre 2008 e 2009.
O colapso da produção e o emprego nas economias industrializadas foi contido, e o fantasma de um desastre como o do começo dos anos 1930 foi exorcizado, ao menos temporariamente e para alguns países. Neste ponto, o debate nas nações avançadas sobre as políticas econômicas mudou de rumo.
Embora a recessão continuasse e o desemprego aumentasse mais do que antes da crise, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa, o debate deixou de centrar-se nos problemas reais e se alojou no equilíbrio orçamentário.
Os conservadores, desde a lunática extrema direita do Tea Party nos Estados Unidos, até os governos do norte da Europa guiados por partidos ou coalizões de direita, puseram freio às políticas fiscais dirigidas a incentivar a produção e o emprego.
Desde então, o recurso das políticas fiscais antirrecessivas se tornaram publicamente inaceitáveis, mesmo quando a produção diminui e o desemprego cresce. Nestas condições, só resta um instrumento para enfrentar a crise: a política monetária.
Tradicionalmente, esta política opera na economia mediante variações das taxas de juros. Mas os juros aplicados por autoridades monetárias, como o Federal Reserve dos Estados Unidos ou o Banco da Inglaterra, por exemplo, já eram muito baixos, próximos de zero.
Portanto, pouco podia fazer a política monetária convencional para compensar a falta de uma política fiscal antirrecessiva racional.
Neste contexto, foram formuladas as políticas de expansão monetária quantitativa nos Estados Unidos, na Grã-Bretanha e mais recentemente no Japão, enquanto o Banco Central Europeu não termina de definir sua própria política.
As manobras de expansão monetária são simplesmente iniciativas para injetar dinheiro na economia em quantidade suficiente para estimular a oferta de crédito para empresas e consumidores.
Quais são os resultados destas políticas? Certamente, as economias industrializadas que as adotaram ainda estão lidando com a crise. Uma leitura generosa costuma sustentar que, embora as coisas ainda não estejam bem, estariam muito pior se essas políticas não fossem aplicadas.
Para as economias em desenvolvimento, o impacto é certamente ambíguo. Por um lado, costuma-se argumentar que, se não mediassem as manobras de expansão monetária, os países industrializados estariam em uma situação muito pior, e que isto repercutiria nas economias em desenvolvimento. Com uma recessão mais profunda nas economias industrializadas, o intercâmbio comercial teria caído ainda mais, criando problemas na balança de pagamentos de muitos países em desenvolvimento.
Do ponto de vista dos países em desenvolvimento, a expansão monetária não é a melhor maneira de apoiar a produção e o emprego. Adotada pelos países avançados, induz uma abundante liquidez que se oferece a juros muito baixos, e isto faz com que uma parte dessa massa monetária migre em busca de maiores rendimentos, provocando a desvalorização da moeda do país que a pratica.
Esta manobra produz dois estímulos pelo preço de um: os menores juros estimulam a produção interna e os investimentos, e as moedas desvalorizadas estimulam as exportações.
Para os países em desenvolvimento a situação se inverte: recebem uma excessiva liquidez externa que valoriza suas moedas, encarecendo suas exportações e barateando suas importações.
Este processo faz surgir um déficit na balança de pagamentos que se pode financiar facilmente, precisamente, graças à enorme liquidez circulante.
Assim é até o momento em que a expansão quantitativa nos países avançados se interrompe e os países receptores descobrem, como ocorreu tantas vezes no passado, que acumularam uma dívida externa que pode levá-los à crise.
Seria melhor que os países industrializados não praticassem a expansão monetária? Bem, os governos destes países tinham que fazer algo para enfrentar a crise, e a política monetária era o único instrumento que lhes restava após o veto dos partidos de direita contra a política fiscal.
Entretanto, é inquestionável que seria preferível uma política fiscal antirrecessiva nos países avançados, porque estimula suas economias sem desvalorizar suas moedas.
A expansão fiscal, em contraste com a monetária, não prejudica os demais países.
Precisamente, o Federal Reserve dos Estados Unidos já anunciou que, em um prazo relativamente breve, espera frear a terceira manobra de expansão monetária.
Esta prática causou os efeitos nocivos nos países em desenvolvimento que apontei, mas sua interrupção também apresenta riscos.
É possível, por exemplo, que as taxas de juros aumentem muito e rapidamente, criando sérios problemas aos países e às empresas que tomaram empréstimos neste período.
A volatilidade que pode engendrar mediante mudança de direção é um problema em si mesmo, pois afugenta os investidores e deprime a produção. Uma política de estímulo para sair de uma depressão é a atitude correta, mas a expansão monetária é um instrumento que, definitivamente, representa grandes riscos, em curto e médio prazos, para a situação macroeconômica. Envolverde/IPS

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